É difícil dar-lhe uma resposta segura, porque há muitos dados sobre os aspectos fonéticos, lexicais e sintácticos dos dialectos do sistema galego-português, mas são raros os estudos sobre semântica verbal ou semântica de frase, como parece ser o âmbito do problema focado. Mas arrisco-me a dizer, com grande margem de confiança, que o pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo, que já constitui um paradigma de conjugação verbal de uso restrito em Portugal e no Brasil, perdeu actualmente o valor de condicional (ou futuro do pretérito na terminologia gramatical brasileira) na língua coloquial. Como prova do que acabei de considerar, sirvam os comentários do verbete da entrada de mais-que-perfeito no Dicionário Houaiss:
«a) é us., tb., em registros mais formais, com o valor do imperfeito do indicativo, imperfeito do subjuntivo e do futuro do pretérito (quisera = queria, quisesse e quereria); p. ex., eu quisera poder voar; se tu souberas o quanto penei; eu o fizera, se tu pedisses.
b) no Brasil, o mais-que-perfeito simples é pouco us. na língua falada, onde é substituído pela forma composta equivalente [...].»
Esclareça-se também que o valor de condicional associado ao pretérito mais-que-perfeito do indicativo é cada vez mais frequente no pretérito imperfeito do português mais corrente; ex. (de Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, 2002, pág. 278):
«Eu, se tivesse crédito na praça, pedia outro empréstimo.»
E graciñas polas palabras coas que remata a súa pregunta.