Não existe uma fórmula única para se formarem os gentílicos (nomes dos naturais e/ou dos habitantes) de uma determinada cidade, vila, aldeia, região ou país, embora haja um certo consenso para a formação de tais palavras — acrescentando-se ao nome da localidade (topónimo) certos sufixos, de entre os quais se destacam -ense, -ês, -ano, -ão, -enho, -ista, -ota, por exemplo.
Aconselhamo-lo, por isso, a que consulte o Dicionário de Gentílicos e Topónimos, no Portal da Língua Portuguesa, da responsabilidade do ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional), um recurso electrónico criado especificamente para essa realidade linguística. Repare-se no que é dito na sua página inicial:
Os habitantes de Portugal chamam-se portugueses, a música do Brasil é brasileira. Mas como designar os objetos e as pessoas de Macau, do Rio de Janeiro ou da Lituânia? Quando designamos alguém em função do país, da região, da província, da localidade em que nasceu ou de onde alguém ou alguma coisa procede, estamos a utilizar um gentílico.
Existem várias formas de criar gentílicos. Os mais comuns são os formados por sufixos como -ês (português), -ense (macaense) e -ano (americano). Porém, a formação dos gentílicos nem sempre consiste na mera junção de um sufixo à base do topónimo (nome de um sítio ou local), existindo processos mais complexos, por vezes com justificações etimológicas ou históricas: por exemplo, o gentílico de Castelo Branco é albicastrense e não *castelo-branquês, *castelo-branquense ou *castelo-brancano. [* Este símbolo significa que a frase é agramatical, incorrecta.]
Relativamente à questão apresentada sobre a palavra portuguesa correspondente ao gentílico francês morvandiau, não encontrámos nenhum termo português que represente a tradução directa de tal palavra francesa. Decerto, a forma mais correcta será a expressão habitual para os casos em que não existe o aportuguesamento do gentílico original: «habitante de Morvan», «natural de Morvan», «residente em Morvan», «da região de Morvan» ou, ainda, «de Morvan».
Sobre o uso de maiúscula inicial, a questão não se levanta em relação ao uso adjectival, que é sempre com minúscula inicial: «palácios lisboetas», «ruas luandenses». Quando os gentílicos são usados como substantivos, não é claro o que fazer, porque não se encontram critérios no Acordo Ortográfico de 1990 (AO 1990).
Anteriormente, acontecia que a norma brasileira divergia da norma europeia:
a) no Brasil, o 2.º da Base XVI do Formulário Ortográfico de 1943 (em vigor até finais de 2008) determinava que os nomes de povos (nos quais se abrangiam em exemplo os gentílicos) se escreviam com «[...] inicial minúscula, não só quando designam habitantes ou naturais de um estado, província, cidade, vila ou distrito,mas ainda quando representam coletivamente uma nação: amazonenses, baianos, estremenhos, fluminenses, guarapuavanos, jequíeenses, paulistas, pontalenses, romenos, russos, suíços, uruguaios, venezuelanos, etc.»;
b) em Portugal, a Base XXXIX do Acordo Ortográfico de 1945 (em processo de substituição pelo AO 1990 até 2015) exigia que «os nomes de povos, raças ou populações» se escrevessem «com maiúscula inicial, por constituírem verdadeiras formas onomásticas», incluindo numa lista de exemplos alguns gentílicos como «os Cariocas», «os Lisboetas», «os Louletanos», «os Murtoseiros».
Poderá sugerir-se manter o procedimento usado em cada norma, mas torna-se necessário que, mais uma vez, as entidades que têm acompanhado a aplicação do AO 1990 nos países de língua portuguesa se decidam sobre a continuação ou o fim desta divergência.