Jovem é adjectivo («patrão jovem»), mas também é substantivo («um jovem que é patrão»).1 Repórter é normalmente um substantivo, mas ocorre eventualmente como modificador de outro substantivo; por exemplo, na palavra não dicionarizada, mas possível, «detective-repórter» e na frase «este jovem é repórter». Por conseguinte, o professor em causa só em parte tem razão, porque na realidade duas interpretações são atribuíveis a «o jovem repórter»:
1) Existe um repórter [substantivo] que é um homem jovem [adjectivo].
2) Existe um jovem [substantivo] que é repórter [substantivo com valor adjectival].
Quer isto dizer que, ao classificar uma palavra ou como substantivo ou como adjectivo, é necessário saber que:
a) a mesma forma pode pertencer a duas classes morfossintácticas diferentes: jovem é adjectivo em «um patrão jovem», mas é substantivo em «um jovem»;
b) há adjectivos que podem preceder ou seguir o substantivo que modificam (posições pré-nominal e pós-nominal, respectivamente), como sucede com as expressões «um patrão novo» e «um novo patrão», mas acontece que outros adjectivos apenas pospostos aos substantivos podem ocorrer: diz-se «um carro vermelho», mas não *«um vermelho carro».2
O caso de «nova estatística» ou «estatística nova» é justamente o mesmo de «patrão novo» e «novo patrão»: o masculino novo e o feminino nova ocorrem sobretudo como adjectivos.3 Contudo, relativamente a «fumante italiano» e «italiano fumante», já a situação é semelhante à de «carro vermelho». Por um lado, como muitos adjectivos de cor, os adjectivos referentes a nacionalidade usam-se pospostos só aos substantivos que modificam;4 além disso, as formas destes adjectivos são também usadas como substantivos. Por outro lado, fumante é substantivo («o fumante» = «o fumador»).5 Por conseguinte, tendo em conta as mencionadas restrições sobre a colocação de italiano e fumante enquanto adjectivos, torna-se mais fácil concluir que «fumante italiano» e «italiano fumante» são expressões nominais constituídas pela mesma sequência, substantivo + adjectivo: se fumante e italiano estiverem à cabeça da expressão nominal, é porque são substantivos; se aparecerem em segundo lugar, são adjectivos.
Em conclusão, nem sempre é fácil distinguir substantivos de adjectivos, porque uns e outros podem ter a mesma forma («a bandeira italiana» vs. «os italianos»). A tarefa fica às vezes facilitada quando se sabe que muitos adjectivos surgem apenas na posição canónica em português, isto é, pós-nominal. Mas são inumeráveis os adjectivos que figuram nas duas posições, pré-nominal e pós-nominal, gerando assim algumas ambiguidades: é por isso que «o jovem italiano» tanto é «o rapaz que é italiano» como «o italiano que é jovem».
1 Os nomes identificam entidades e têm capacidade referencial, os adjectivos atribuem qualidades às coisas, ou seja, têm normalmente capacidade atributiva. Os nomes determinam a concordância de género e número dos seus especificadores e modificadores adjectivais; os adjectivos concordam em género e em número com o substantivo que modificam.
2 O adjectivo geralmente ocorre depois do substantivo (substantivo + adjectivo). O adjectivo posposto possui valor restritivo, especificador ou predicativo, como no exemplo a seguir (cf. M.ª Helena Mira Mateus, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, pág. 378/379):
1) o carro velho (= com muitos anos, eventualmente em mau estado)
No entanto, nem sempre isso acontece. Anteposto, o adjectivo pode assumir, em geral, um sentido figurado: «um grande homem» (com grandeza figurada) vs. «um homem grande» (com grandeza material). O adjectivo fica, assim, com um valor subjectivo («interpretação associada a conotação ou ao chamado «sentido figurado) (ibidem):
2) o velho carro (= antigo e com valor estimativo)
3 Na expressão «o novo», novo é substantivo significa «o que é actual». Também é substantivo em «os novos», no sentido de «a gente nova» ou «os jovens» (cf. Dicionário Houaiss).
4 Colocam-se normalmente depois do substantivo:
– os adjectivos de relação que indicam uma categoria na espécie designada pelo substantivo: «um movimento estudantil»» (*«um estudantil movimento» não é aceitável);
– os adjectivos que designam forma, dimensão, cor e estado: «casa plana» (e não *«plana casa»);
– adjectivos seguidos de um complemento nominal: «uma tarefa fácil de cumprir» (e não «uma fácil de cumprir tarefa»).
Colocam-se antes do substantivo:
– os adjectivos superlativos relativos como melhor, pior, maior e menor: «O melhor meio de ganhar é jogar bem»;
– determinados adjectivos monossilábicos que formam com o substantivo expressões equivalentes a substantivos compostos: «má hora»;
– adjectivos que adquiriram um sentido especial nessa posição: «simples escritor» (= um mero escritor) ou «escritor simples» («um escritor com escrita simples»).
5 A palavra fumante pertence a classes morfossintácticas diferentes:
i) O polícia deteve o fumante italiano.
ii) O polícia deteve o italiano fumante.
Em i), a palavra fumante é substantivo («o fumante»), em resultado de derivação imprópria, ou linguagem mais especializada, por «conversão deadjectival». Em ii´), é adjectivo, o que pode ser comprovado através do teste de substituição de fumante por homem, que é substantivo(as interrogações indica problemas de aceitabilidade):
ii´) ??O polícia deteve o italiano homem.
A frase tem grandes restrições, se fumante for substituído por homem. Outro teste indica que fumante, enquanto adjectivo, tende a ocupar a posição pós-nominal:
ii´´) a. O polícia deteve o homem fumante.
b. ??O polícia deteve o fumante homem.
Em ii´´) a., a posição pré-nominal tem grandes restrições: só em certos contextos, e provavelmente com intenção irónica, se dirá «o fumante homem».