A frase apresentada não se presta à transformação pretendida, porque ir no pretérito perfeito do indicativo e seguido de infinitivo faz parte de uma construção em que se comporta como verbo pleno, e não como auxiliar.
Se a frase incluísse apenas o verbo chamar ou o verbo ir no presente do indicativo (funcionando como verdadeiro auxiliar para exprimir o futuro), seria possível a conversão na voz passiva:
1 – «O filho chamou o pai.» → «O pai foi chamado pelo filho.»
2 – «O filho vai chamar o pai.» → «O pai vai ser chamado pelo filho.»
Contudo, na frase em causa, o verbo ir está no pretérito perfeito do indicativo e não se comporta como auxiliar. Nesta construção, o sujeito de ir mostra a particularidade de ter necessariamente controlo sobre a situação expressa pelo infinitivo, que vem a ser o núcleo do predicado de uma oração subordinada completiva de infinitivo (este comportamento é comentado pela Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, págs. 1264/1265). Daí, a agramaticalidade da voz passiva (o * indica agramaticalidade):
3 – «O filho foi chamar o pai.»
4 – *«O pai foi ser chamado pelo filho.»/ *«O filho foi o pai ser chamado.»
Este comportamento é análogo ao do verbo querer – neste caso, é indiferente o tempo verbal – seguido de infinitivo:
5 – «O filho quer/quis chamar o pai.»
6 - *O pai é/foi querido chamar pelo filho./*«O filho quer/quis o pai ser chamado.»
Tanto em 3 como em 5, verificamos que as formas verbais selecionam uma oração de infinitivo verbo – «chamar o pai». Os exemplos agramaticais de 4 e 6 evidenciam a impossibilidade de, no tipo de estruturas ilustrado por 3 e 5, a oração subordinada aceitar a voz passiva.