A frase em apreço é interessante e não é, importa salientar desde já, o exemplo de uma mensagem conotativa, ou seja, de carácter informativo, linear. Assumindo a criatividade estética da frase, note-se como o plural do verbo «retiveram» anula a hipótese formulada através do advérbio talvez, impondo a conjunção ou não como disjuntiva, nem parentética (não surge entre vírgulas), mas com claro valor aditivo. O uso do indicativo em vez do conjuntivo contribui para anular o efeito hipotético num claro jogo entre hipótese e realidade.
Porém, do ponto de vista estrutural, «ou talvez o medo do ridículo» comporta-se como parentética (encontrando-se num nível diferente no discurso), na medida em que o advérbio talvez não condiciona o modo verbal, como condicionaria se ocorresse no primeiro membro da coordenação:
(1) «Ela fez menção de levantar-se, ir embora, porém meu olhar acolhedor ou talvez o medo do ridículo a retiveram.»
(2) «Ela fez menção de se levantar, ir embora, porém, talvez o meu olhar acolhedor ou o medo do ridículo a retivessem/tivessem retido.»
(3) «Ela fez menção de levantar-se, ir embora, porém meu olhar acolhedor, ou talvez o medo do ridículo, retiveram-na.»
(4) *«Ela fez menção de se levantar, ir embora, porém, talvez o meu olhar acolhedor ou o medo do ridículo retivessem-na.»
Para além do uso do conjuntivo, na variante europeia do português é possível também jogar com a ênclise. Assim, verifico que em (3), embora talvez seja um dos advérbios que exigem próclise, a ênclise é correcta, o mesmo não acontecendo em (4), o que, a par do uso ou não do conjuntivo, permite verificar que o âmbito de acção de talvez é distinto, consoante está no primeiro ou no segundo membro coordenado.
Note-se que isso aconteceria igualmente se a conjunção fosse e:
(5) «Ela fez menção de se levantar, ir embora, porém, talvez o meu olhar acolhedor e o medo do ridículo a retivessem/tivessem retido.»
(6) «Ela fez menção de levantar-se, ir embora, porém meu olhar acolhedor, e talvez o medo do ridículo, retiveram-na.»