Podemos considerar que a frase em apreço configura um ato ilocutório diretivo indireto.
Antes de mais, recordemos que existe uma diferença entre as expressões «ato de fala» e «ato ilocutório». O ato de fala é um conceito que descreve as ações realizadas por um locutor através de um enunciado, visando intencionalmente obter algo. Um ato de fala é composto por três atos: o ato locutório, que corresponde ao enunciado pronunciado na sua materialidade linguística; o ato ilocutório, que corresponde ao ato realizado pelo locutor quando pronuncia um determinado enunciado; o ato perlocutório, que corresponde ao efeito produzido por um ato ilocutório no interlocutor.
Neste caso particular, interessa-nos identificar o ato ilocutório veiculado pelo enunciado. Considerando que os atos ilocutórios diretivos têm o objetivo ilocutório procurar levar o interlocutor a realizar uma ação futura, poderemos considerar que, no contexto em que foi produzido o discurso político, o locutor tinha a intenção de incitar os interlocutores a uma ação que permita tornar reais e concretas as ideias da democracia. De acordo com essa interpretação, estamos perante um ato ilocutório diretivo.
Trata-se, todavia, de um ato ilocutório diretivo indireto porque o locutor não expressa uma ordem de forma direta. Esta ordem é atenuada por meio do recurso a uma frase declarativa, que, no entanto, pode ser interpretada como equivalente a (1), onde a ordem é apresentada de forma direta:
(1) «Vamos tornar reais as promessas da Democracia.»
Não consideramos que a frase apresentada pelo locutor veicule um ato ilocutório assertivo porque a intenção do enunciado não parece estar veiculada a um valor de verdade da afirmação. Por essa razão, não consideramos que a frase seja equivalente à afirmação apresentada em (2) porque o objetivo ilocutório não parece resumir-se, neste contexto, ao valor de verdade do enunciado:
(2) «Eu comprometo-me com o facto de esta afirmação ser verdadeira: agora é tempo de tornar reais as promessas da Democracia.»
Disponha sempre!