Nas frases em questão, o constituinte entusiasmada é um adjetivo que desempenha a função de modificador do nome apositivo.
Antes de mais, comprovamos que, nas frases apresentadas, entusiasmada é um adjetivo pelo facto de admitir flexão em grau, sendo compatível com o advérbio muito:
(1) A professora, muito entusiasmada, sorriu.
Para além disso, comprova-se que entusiasmada incide sobre o grupo nominal «a professora» pelo fenómeno de concordância. Uma alteração no género e número deste grupo nominal geraria alterações no adjetivo, como se observa nas frases (2) e (3):
(2) «O professor, muito entusiasmado, sorriu.»
(3) «As professoras, muito entusiasmadas, sorriram.»
A função sintática desempenhada pelo adjetivo identifica-se pelo facto de este incidir sobre o grupo nominal, independentemente da sua posição na frase. Uma vez que não constitui um argumento do nome professora, desempenha a função de modificador do nome. Trata-se em particular de um modificador apositivo porque não restringe o valor referencial do nome, constituindo, antes, um comentário que pode ser eliminado da frase sem prejudicar a sua gramaticalidade. Neste caso particular, o modificador constitui um comentário avaliativo sobre a realidade denotada pelo nome1, pelo que o adjetivo terá uma natureza avaliativa (mais do que adverbial). Recorde-se que os adjetivos avaliativos «expressa[m] uma avaliação subjetiva, geralmente da responsabilidade do falante, acerca das entidades referidas pelo sintagma nominal»2.
Refira-se ainda que quando os adjetivos não são identificadores, ainda que incidam sobre o nome, podem surgir noutros locais da frase3, o que justifica a possibilidade das frases (4) e (5), sem que a função do adjetivo se altere.
Outra leitura possível é a de que o adjetivo poderá ter uma leitura não atributiva (como se propôs acima), mas predicativa. Neste caso o adjetivo não integra o sintagma nominal «a professora», mas antes predica sobre ele e pode ser separado dele. Nesta leitura, o adjetivo é compatível com advérbios como já ou ainda, o que geraria frases como as que se apresentam de seguida:
(4) «A professora, já entusiasmada, sorriu.»
(5) «Já entusiasmada, a professora sorriu.»
(6) «A professora sorriu já entusiasmada.»
Neste caso, embora a função do constituinte tenha uma leitura predicativa, há que deixar algumas ressalvas. Em primeiro lugar, o verbo sorrir não é copulativo (o que se comprova pelo facto de este verbo selecionar um sujeito [+humano], o que não acontece com os copulativos que não impõem restrições semânticas ao sujeito). Em segundo lugar, o constituinte «entusiasmadas» não desempenha a função de típico predicativo do sujeito. Trata-se antes de um constituinte predicativo adjunto, ou dito de forma mais simples, de um predicativo do sujeito não selecionado. Estes são constituintes com um comportamento próximo dos modificadores do grupo verbal4.
Note-se, por fim, que esta última análise não se enquadra nos conteúdos gramaticais previstos para o ensino não universitário, pelo que não se aconselha que seja proposta aos alunos.
1. Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 366.
2. Veloso e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1387.
3. Cf. Mira Mateus et al., Gramática Portuguesa. Caminho, p. 369.
4. Para mais informações sobre este aspeto, cf. Raposo, Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1351-1356.