Como dizem os dicionários, metaplasmo é a designação genérica de alterações na estrutura vocabular por meio de adição, supressão ou mudança de fonemas. Eliminando desde já (por não lhe interessarem) os fenómenos de adição e supressão, ficam para tratar os de permuta. Nestes, aquele em que existe mudança de posição de fonemas é a metátese que consiste na troca de situação de um ou mais fonemas dentro do corpo de uma palavra (metátese vocabular) ou de uma palavra para outra (metátese sintáctica). Quanto à forma as metáteses podem ser progressivas, regressivas e recíprocas. Dividem-se também em fonéticas e analógicas, e quanto ao modo de formação em inconscientes, semiconscientes e conscientes.
Se considerarmos mudanças de fonemas aquelas em que ocorrem, por vários motivos, transformações destes noutros, todos os restantes fenómenos fonéticos (assimilação e dissimilação, por exemplo) são igualmente metaplasmos.
Não deixe de consultar numa biblioteca o esplêndido livro de Rodrigo de Sá Nogueira Elementos para Um Tratado de Fonética Portuguesa (Imprensa Nacional de Lisboa, 1938), há muito esgotado.
N.E.– Na obra acima citada (págs. 181-188), Rodrigo de Sá Nogueira chama metátese ao «fenómeno que consiste na mudança de situação de um ou mais fonemas dentro do corpo de uma palavra (metátese vocabular), ou de uma palavra para a outra (metátese sintáxica [ou sintáctica])», propondo a seguinte classificação:
«As metáteses, quanto ao seu modo de formação, podem ser agrupadas em três grandes categorias: inconscientes, semiconscientes e conscientes.
«As metáteses de qualquer destas categorias podem ser consideradas quanto à origem e quanto à forma.
«Quanto à origem, as metáteses inconscientes resultam de um fenómeno fonético ou de um analógico; as semiconscientes de uma confusão; e as conscientes de um propósito.
«Quanto à forma, as metáteses podem ser progressivas, regressivas e recíprocas.»
Sobre a metátese fonética explica Rodrigo Sá Nogueira:
«A metátese é fonética quando resulta de um fenómeno de atracção de um fonema por outro, para estabelecer maior harmonia entre os fonemas de um vocábulo.
«Em vigairo, por exemplo, por vigário, deu-se uma metátese fonética, porque a deslocação do i para junto do a deve ter sido provocada pela atracção, que este último exerce sobre o primeiro, pela tendência que há para a ditongação.»
Quanto à metátese analógica, lê-se na obra citada:
«A metátese é analógica, quando resulta, não de um fenómeno de atracção de um fonema por outro, mas de um fonema de analogia.
«Em arioplano, por exemplo, forma que muitos empregam por airoplano (de aeroplano), deu-se uma metátese analógica, porque a deslocação do r para junto do a não deve ter sido provocada por um fenómeno de atracção deste último sobre o primeiro, mas por um fenómeno de analogia com ar.»
Rodrigo de Sá Nogueira debruça-se de seguida sobre a metátese semiconsciente:
«A metátese é semiconsciente, quando não resulta nem de um fenómeno de atracção de um fonema por outro, nem de um fonema de analogia, mas da confusão de quem fala, que se lembra de que em certa palavra existe certo fonema, mas esqueceu-se de qual a situação desse fonema, resultando aqui colocá-lo mal, fora do seu lugar próprio.
«Chamo a esta espécie de metásteses semiconscientes, por ela resultar da indecisão de quem fala ou escreve, que de um lado tem a consciência de que em certa palavra existe certo fonema, mas de outro lado não tem a consciência de qual a situação deste no corpo da palavra.
«Em interpetrar, por exemplo, por interpretar, deu-se uma metátese semiconsciente, porque a deslocação do r para junto do segundo t, nem deve ter sido provocada por um fenómeno de atracção deste último sobre o primeiro, nem por um fenómeno de analogia com qualquer outro vocábulo, mas por uma confusão de quem fala, que se lembra de que na palavra interpretar existem dois rr, além do final, mas esquece-se de qual a distribuição deles no corpo daquela palavra.
«Este fenómeno de confusão é tão evidente no vocábulo interpretar, que, além das duas formas apontadas, muitos empregam interpretrar, talvez por descargo de consciência.»
Mais à frente destes infelizmente há muito esgotadíssmos (até quando?!...) Elementos para Um Tratado de Fonética, Rodrigo de Sá Nogueira debruça-se sobre o fonema fixo e o fonema móvel:
«O fonema fixo é aquele para junto do qual recua o móvel nas metáteses regressivas, e avança nas progressivas.
«Na palavra história, por exemplo, quando passa por metátese para histoira, o o é o fonema fixo, e o i o móvel; em idoneidade, por idoniedade, o fonema fixo é o e, e o i o móvel; em calanização canalização, o n e o l são os dois fonemas móveis.»
Completa este capítulo sobre as metáteses, cuja consulta se aconselha a quantos queiram inteirar-se mais aprofundadamente do assunto, a exemplificação de casos de:
· metátese progressiva (contemporaneidade < contemporaniedade; simultaneidade < simultaniedade; etc.);
· metátese regressiva (Antoino < António; duiza < dúzia; etc.);
· metátese recíproca (balanidade < banalidade; dágolo < diálogo; etc.);
· metátese analógica (hades < hás-de; prestigiditação < prestidigitação; etc.);
· metátese semiconsciente (corcodilo, cocodrilo e corcodilo < crocodilo; dentrífico < dentífrico; etc. etc.);
· metátese consciente (as iludências aparudem < as aparências iludem; com rapidade e velocidez < com rapidez e velocidade; etc.);
· e metáteses infantis (abirritado < arrebitado; pitioca < tapioca; etc.).