DÚVIDAS

Ironia, enumeração, paralelismo e disfemismo em Os Maias, de Eça de Queirós

Começo por dar os parabéns a toda a equipa do Ciberdúvidas pelo serviço que prestam a quem, como eu, tantas vezes tem dúvidas.

Neste momento, a minha dúvida prende-se com a identificação do(s) recurso(s) expressivo(s) que poderemos detetar nas seguintes expressões (retiradas de Os Maias, de Eça de Queirós):

«o dever da mulher era primeiro ser bela, e depois ser estúpida…»

«[Era alta, muito pálida, sobretudo às luzes, delicada de saúde, com um quebranto nos olhos pisados, uma infinita languidez em toda a sua pessoa,] um ar de romance e de lírio meio murcho» (aqui, apenas o que está fora dos parênteses).

Muito obrigada!

Resposta

Na frase «O dever da mulher era primeiro ser bela, e depois ser estúpida», verificamos a presença de vários recursos estilísticos:

— a ironia (o dever de: primeiro, bela; depois, estúpida);

— a enumeração (na listagem das "qualidades"/deveres da mulher) e o polissíndeto («e depois ser...»);

— o paralelismo de construção (anáfora do verbo ser + adjectivo — «ser bela... ser estúpida)

— o disfemismo («ser estúpida»).

Por sua vez, na segunda frase — «[Era alta, muito pálida, sobretudo às luzes, delicada de saúde, com um quebranto nos olhos pisados, uma infinita languidez em toda a sua pessoa,] um ar de romance e de lírio meio murcho» —, o que sobressai é a metáfora (a afirmação «Um ar de romance» em vez da comparação «como um ar de romance» e «de lírio meio murcho»). Poder-se-á considerar marcas de disfemismo em «meio murcho», pois a imagem de beleza que se pretende dar com a metáfora de «ar de lírio» perde esse valor com a ideia de «meio murcho».

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