O termo Γοργόνειον (Gorgóneion), na Antiga Grécia, referia-se a um amuleto apotropaico que representava a cabeça da Medusa, uma das três Górgonas.
Não encontrei nenhum aportuguesamento registado em dicionários ou noutras obras de referência. Por exemplo, António Freire (1919–1997), na sua obra Helenismos Portugueses (Edições APPACDM Distrital de Braga, 2.ª edição, 1996, p. 36), ao tratar do aportuguesamento de Γοργόνες (Gorgónes), termo para o qual admite dupla forma na nossa língua (Górgones ou Górgonas), não faz qualquer menção a Γοργόνειον.
Por isso mesmo, resta-nos perscrutar o que o douto helenista propugna para termos gregos análogos. Por exemplo, sobre Ποσειδῶν (Poseidōn) comenta que «O aportuguesamento deste mitónimo tem corrido a mais desvairada fortuna na lexicografia nacional» (ibidem, p. 123), após o que enumera as formas que encontrou dicionarizadas: “Poseidon” (variante que considera «bizarra»), “Poséidon”, “Posídon” e “Posidão”. De todas estas, a que lhe merece a preferência é Posídon. Quanto à forma “Posidão”, entende que «seria aceitável, se se tratasse de nome comum; mas trata-se de nome próprio que deve obedecer às normas gerais, visto o uso outra forma não haver consagrado definitivamente».
Fazendo a analogia com o vocábulo em apreço, poderíamos considerar corretamente transliterada a forma “gorgónion” e aceitável a forma “gorgonião”, pois neste caso, ao contrário do que sucede com Posídon, trata-se de nome comum.
Aliás, foram estas as únicas formas que se me depararam no decorrer da pesquisa que levei a cabo. O escritor brasileiro Mikka Capella (n. 1982), autor da obra Romani Dromá, Caminhos Ciganos (Edição do Autor, Rio de Janeiro, 2017), serviu-se da primeira (“gorgónion”) no artigo “Medusa e a outra face de Athená”, publicado a 12 de maio de 2015 no seu blogue “Páginas Cruzadas”. No entanto, o vocábulo aparece grafado em itálico, indicando aparentemente que se trata de mera transliteração do grego, e não de um verdadeiro aportuguesamento. Quanto à segunda (“gorgonião”), mereceu a preferência de Enrico Mattievich (n. 1938) escritor e arqueólogo peruano radicado no Brasil, que a estampou na pág. 58 da sua obra Viagem ao inferno mitológico (Editora Objetiva, 1992), bem como a de Artur Felisberto, no artigo “Bês, o deus bobo dos bebés”, publicado a 19 de setembro de 2013 no seu blogue “Numância”.
Estou em crer que a forma gorgonião é preferível a gorgónion, devido à maior facilidade de formação do plural (gorgoniões). O plural da segunda, salvo melhor parecer, afigura-se-me arrevesado (“gorgoníones”). Ora, tratando-se de um nome comum, é de toda a conveniência que o plural se possa derivar de forma límpida e prática.