Em termos semânticos, as construções ativas permitem tipicamente dar uma maior proeminência ao sujeito enquanto constituinte que descreve o agente, experienciador ou a causa do estados de coisas descrito pelo predicado. Assim, em (1), o facto de o constituinte «O João» deter a função de sujeito corresponde ao maior relevo que tem na frase, pois trata-se do agente responsável por «questionar o motivo da comunicação»:
(1) «O João questionou o motivo da comunicação.»
Dos pontos de vista sintático e semântico, esta é a organização típica das orações ativas.
As frases passivas verbais, por seu turno, caracterizam-se por “despromover” o sujeito para a função de complemento agente da passiva, como ilustra o constituinte «o João» em (2):
(2) «O motivo da comunicação foi questionado pelo João.»
A opção pela passiva pode, deste modo, estar associada a uma intenção de secundarização do agente de determinada situação. Note-se, ainda, que, em determinados contextos, é possível omitir o agente da passiva, como em (3):
(3) «O motivo da comunicação foi questionado.»
Nestes casos, estamos perante um agente implícito de referência indeterminada, o que pode estar associado a diversas intenções, como a de evitar a repetição do agente, que se recupera pelo contexto, ou a de ocultar a identidade do agente, que, deste modo, não é associado à responsabilidade por um dado estado de coisas.
A frase ativa pode também ser convertida numa passiva pronominal ou reflexa, como em (4):
(4) «Questionou-se o motivo da comunicação.»
Nestas frases, o complemento direto da frase ativa desempenha a função de sujeito (neste caso, o constituinte «o motivo da comunicação») e o sujeito da frase ativa fica implícito. Esta opção permite associar ao agente da frase um valor de indeterminação, que pode também corresponder a um desejo de não identificação do agente, para proteger a sua identidade, ou a uma intenção de desresponsabilização relativamente a um dado estado de coisas1.
Refira-se também que não possuímos dados que nos permitam afirmar que a opção por este tipo de construções passivas seja uma tendência recente. Note-se, todavia, que não se trata de uma estrutura registada historicamente.
Em comunicações formais, que dizem respeito a um organismo coletivo, o uso deste tipo de estruturas permite que o agente das situações descritas seja entendido como esse mesmo organismo e não associado a uma pessoa específica, que, em muitas situações, respeita ordens superiores.
Disponha sempre!
1 Para mais informações, consulte-se este artigo de Inês Gama.