A deixis pessoal assinala o estatuto do participante numa interação verbal. Na comunicação apenas participam um eu, que corresponde ao emissor, e um tu, que corresponde ao destinatário. Por esta razão, consideram-se deíticos os pronomes pessoais de 1.ª e 2.ª pessoa. A 3.ª pessoa, ele/eles, refere alguém que não participa na interação, pois não corresponde nem «àquele que fala» nem «àquele com quem se fala».
Se nos centrarmos na atual organização do sistema pronominal português, percebemos que os pronomes você e vocês assinalam, inequivocamente, «aquele a quem se fala», ou seja, correspondem à 2.ª pessoa do singular e do plural, pelo que são deíticos:
(1) «Você quer vir comigo?» (o pronome você assinala o interlocutor da comunicação)
(2) «Vocês querem vir comigo?» (o pronome vocês assinala os interlocutores)
Assim, do ponto de vista dos usos linguísticos, embora o par você/vocês determine a flexão gramatical do verbo na 3.ª pessoa, do ponto de vista pragmático, corresponde a uma 2.ª pessoa. Esta mesma ideia defende José Pinto de Lima:
«se atendermos que em português o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa – as formas verbais que ocorrem com você e vocês devem ser consideradas como marcando a 2.ª pessoa. Ou seja, por exemplo, em (63) as formas verbais estudam/estudam marcam a 2.ª pessoa:
(63) Você estuda/Vocês estudam.
Contudo, se o sujeito for uma verdadeira 3.ª pessoa, como ele(a)/eles(as), as mesmas formas verbais marcam a 3.ª pessoa.» (Pragmática Linguística. Lisboa, Editorial Caminho, 2006, p. 87)
Assim, na comunicação, a 3.ª pessoa é ambígua, pois tanto pode marcar a 2.ª como a 3.ª pessoa. Esta ambiguidade estende-se aos pronomes pessoais que têm a função de complemento direto, aos que são acompanhados de preposição e ainda aos possessivos. Em cada situação de comunicação, a análise pragmática terá de ser efetuada no sentido de verificar se os pronomes em questão assinalam a pessoa a quem se destina o discurso. Se for o caso, estaremos perante deíticos pessoais.