A forma correta é bicameral (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Objectiva, 2001). Contudo, um sistema bicameral é, de facto, formado por duas câmaras. O termo câmera está atestado em vários dicionários, ou como forma antiga usada no português europeu (Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, Lisboa, 2012, de Vasco Botelho do Amaral), ou com duas aceções usadas no Brasil: 1. «máquina de filmar» ou «máquina fotográfica», e 2. «operador de câmara» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, 2001).
No português moderno, tanto brasileiro como europeu, só o termo câmara denota o significado de «assembleia» implícito no conceito de um sistema bicameral. Porque é que se usa, então, o termo bicameral, e não *bicamaral? Historicamente, o termo bicameralismo, cunhado no século XIX (Online Etymology Dictionary), está ligado à evolução do sistema parlamentar em Inglaterra (cf. Bicameralism, Cambridge, 1997, de Tsebelis e Money, pág. 21-24). É possível que a palavra não tenha sofrido alteração fonética em virtude da eufonia do termo e da familiaridade com a forma antiga, câmera, que Vasco Botelho do Amaral, ainda na primeira metade do séc. XX, considerou admissível «pelo facto da sua antiguidade».
N. E. (17/03/2022) – A forma bicamaral tem também registo dicionarístico, pelo menos, em duas fontes elaboradas em Portugal: na Infopédia e no dicionário Priberam; mais rara é a forma adjetival sinónima bicamarário, escassamente atestada lexicograficamente. Com efeito, consultando vários dicionarios – Houaiss, Michaelis, Aulete, Infopédia, Priberam –, constata-se que, por enquanto, apenas o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado consigna o adjetivo bicamarário. Observe-se, mesmo assim, que bicameral é o termo mais corrente quando se pretende referir o que é relativo ao «sistema político em que há duas câmaras legislativas» (Infopédia), isto é, o bicameralismo (cf. bicameral no Corpus do Português, de Mark Davies).