Não foi possível encontrar fontes que identifiquem a origem precisa da expressão idiomática em apreço, que significa «inesperadamente, repentinamente» (António Nogueira Santos, Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas – Português, Lisboa, Edições Sá da Costa, 2006).
«Às duas por três» sugere a própria imagem de uma transição repentina, mas faltam, de qualquer modo, elementos quer sobre a génese da expressão, quer acerca da sua cristalização na língua. Observe-se, mesmo assim, que textos literários a atestam, pelo menos, desde finais do século XIX:
(1) «Estava sempre a falar mal da vida alheia, à sombra da qual aliás vivia; quinze dias em casa de uma amiga, outros quinze em casa de um parente, o mês seguinte em casa de um parente e amigo, e assim por diante; sempre, sempre de passeio. Ia a qualquer parte, fosse ou não fosse desejada, e, às duas por três, era da casa» (Aluísio Azevedo, O Mulato, 1881 in Corpus do Português)
(2) «A menina fez muito bem. Uma ocasião, no baile das Nove Musas, estive às duas por três por lascar uma bolacha numa sujeita que me dirigiu uma graçola pesada.» (Joaquim José da França Júnior, Maldita Parentela, 1887, idem).
Cabe assinalar que os exemplos apresentados em (1) e (2) são ambos de autores brasileiros, o que poderia levar a pensar que a expressão «às duas por três, coloquial e corrente em Portugal, também o fosse no Brasil. A verdade é que os dicionários brasileiros consultados1 não a registam como subentrada nem a duas nem a três; e a consulta de páginas da Internet identificáveis como brasileiras faculta poucas ou nenhumas ocorrências, a não ser quando se citam letras de canções e outros textos provenientes de Portugal.
Assinalem-se, entretanto, outros dois jogos verbais com os numerais dois e três:
– o provérbio ou a máxima «não há duas sem três», que significa «o que uma vez se repete é de crer que venha a ocorrer novamente» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, ver também o dicionário de português da Infopédia);
– a expressão «a três por dois», que os dicionários brasileiros consultados registam mas sem definir da mesma maneira: «desordenadamente» (dicionário Michaelis); «com frequência, com regularidade, amiúde» (Dicionário Houaiss e dicionário de Caldas Aulete).
1 Dicionário Houaiss (2001), dicionário Michaelis (em linha), Dicionário UNESP do Português Contemporâneo (2004).