A equipa do Ciberdúvidas agradece e retribui, embora tardiamente (mas sempre a tempo...), os votos de boas festas e de um feliz 2010.
A frase que nos apresenta é, de facto, ambígua. Porque, na verdade, permite as duas leituras formuladas pelo consulente: 1. a de Rosana ter conhecido Eduardo antes de conhecer o autor da frase; 2. a de Rosana ter conhecido Eduardo antes de o autor da frase o ter conhecido.
Este é um dos muitos casos em que se joga com o poder das construções que, aqui, se deve ao facto de o autor ter concentrado orações temporais infinitivas – que seriam introduzidas pela locução prepositiva/conector temporal «antes de» – numa expressão mais restrita: substituiu essas frases (sujeito + predicado + complemento directo) por um sintagma preposicional («antes de» + «mim»).
O que gerou tal ambiguidade foi o uso da locução prepositiva «antes de», que permite os dois tipos de construções:
– Sintagma preposicional com valor temporal – «antes de» + nome/pronome/advérbio («antes do almoço, antes de mim, antes de amanhã»): «Tenho de estar de volta antes das sete horas» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 13.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 1997, p. 560).
– Oração temporal infinitiva, como se pode ver nos seguintes exemplos: «Antes de seguir, hei-de escrever-te outra vez»; «Antes de chegar lá, parou e voltou-se para mim com as mãos a tapar a boca» (idem).
Se, por outro lado, o autor tivesse optado por ter usado o conector de base adverbial «antes que», que implicaria a construção de uma oração temporal finita com o verbo no conjuntivo – como é caso da frase «Antes que eu me apercebesse, eles chegaram da discoteca» (Mira Mateus et alli, Gramática da Língua Portuguesa, 5.ª ed., Lisboa, Caminho, 2003, p. 722) –, então, nem sequer teria pensado na hipótese de utilizar uma expressão (incorrecta, claro está!) do tipo «antes que mim». Ficaria, então:
«Rosana conheceu Eduardo antes que me conhecesse.»
«Rosana conheceu Eduardo antes que eu o conhecesse.»
Parecem frases um pouco eruditas, com o uso do conjuntivo...
A complexidade da frase apresentada reside precisamente na impossibilidade de se descodificar o sentido desse sintagma preposicional, pois «antes de» deveria ter sido utilizado como conector – que é usado para exprimir o valor de «anterioridade de um estado de coisas relativamente a outro» (Mira Mateus et alii, ob. cit., p. 722) – que introduziria uma oração temporal reduzida (infinitiva). Assim, não haveria problemas na compreensão do sentido da frase:
«Rosana conheceu Eduardo antes de me conhecer.»
«Rosana conheceu Eduardo antes de eu o conhecer/de eu o ter conhecido.»