Perante realidades novas, vêem-se as línguas na necessidade de criar formas de as nomear. Quando essas realidades nos chegam do exterior, já com o nome associado, nem sempre o papel de uma língua é fácil, adoptando-se, normalmente, com o conceito, a designação.
O que temos em «ônibus espacial» é uma adaptação, com recurso, relativamente livre, a uma das traduções possíveis de shuttle. Em Portugal optou-se por outro: vaivém...
Quanto ao facto de a designação de ônibus ser mesquinha, parece-me uma interpretação pessoal que me limito a respeitar, como respeito a sua adopção. Os falantes têm, por vezes, razões que a razão desconhece...
Para mim, o mais surpreendente na escolha de ônibus é a fuga, digamos, ao seu sentido original. Ônibus, chegado à língua portuguesa via inglês, mais não é do que a evolução do dativo latino omnibus (para todos), que surgia inicialmente associado a transporte. «Transporte omnibus» seria (é!) então, um transporte para todos. Ora, não me parece ser esse o sentido ou a função do ônibus espacial, designado, deste lado do Atlântico, vaivém espacial, como já referi.
N. E. (6/1/2017) – A forma ônibus (no Brasil)/ónibus (em Portugal e nos PALOP e Timor-Leste) corresponde a uma palavra esdrúxula, ou seja, a uma palavra que tem acento tónico na antepenúltima sílaba. A relação entre ônibus e omnibus explica-se pelo facto de o elemento de composição omni-, que se conserva no português de Portugal (omnipotente, omnisciente), passar a oni- na variedade brasileira (onisciente, onipotente). Outro caso em que, no português do Brasil, a sequência -mn- passa a -n- é o de anistia, que em Portugal é sempre amnistia (ler aqui).
Cf. Diferenças lexicais entre duas variedades da língua portuguesa