O advérbio certamente pode ser um advérbio de frase (i) e um advérbio de afirmação (ii):
(i) «Certamente nossos pais eram também ferozes, de tremenda força...» (E. Queirós, Contos);
(ii) «Foi para os Olivais? Foi ter com ela? Certamente, pelo menos mandara a tipoia à quinta do Craft»
(exemplos de Clara Amorim e Catarina Sousa, Gramática da Língua Portuguesa, Areal Editores, 2011, pp. 207 e 210).
O caso em questão é o mesmo de (i), e, portanto, certamente ocorre aí como advérbio de frase.
Sobre (ii), convém observar que é discutível considerar certamente como um advérbio de afirmação. Com efeito, João Costa, em O Advérbio em Português Europeu (Colibri, 2008, p. 74), adverte que certamente, efetivamente e decerto não são verdadeiros marcadores de polaridade (isto é, do valor afirmativo ou negativo de um enunciado), porque podem ocorrer em frases negativas:
(iii) «Certamente o João não saiu.»
Além disso, é de assinalar que, na recente Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 1675-1678, vol. I), apenas se refere sim como advérbio de afirmação, ficando a descrição de certamente integrada na dos advérbios avaliativos (idem, pp. 1661/1662).