As frases apresentadas enquadram-se no âmbito das construções copulativas. Estas frases caracterizam-se por dizerem algo sobre o sujeito, ao qual se associa uma situação descrita pelo predicativo do sujeito por intermédio de um verbo copulativo (ser ou estar, tipicamente).
A ordem canónica das frases copulativas é «sujeito + verbo copulativo + predicativo do sujeito». Não obstante, é possível alterar esta ordem para uma frase quer copulativa invertida («predicativo do sujeito + verbo copulativo + sujeito») quer para situações como «verbo copulativo + sujeito + predicativo do sujeito».
Esta última possibilidade está presente na frase transcrita em (1):
(1) «Está um papel no chão.»
A inversão da ordem dos elementos da frase tem lugar, por exemplo, em situações dêiticas, em frases que, na oralidade, acompanham o gesto de apontar para algo (ou em que esta identificação é feita mentalmente)1:
(2) «Está um gato na lareira.»
(3) «Está uma manifestação à porta da escola.»
O facto de «um papel» ser sujeito na fase (1) pode ser comprovado pelo fenómeno de concordância, pois caso se recorra ao plural o verbo flexiona, concordando com o sujeito, como se observa em (4):
(4) «Estão vários papéis no chão.»
No caso da frase apresentada em (5), estamos também perante um uso dêitico relacionado com o momento de fala:
(5) «Está um dia bom.»
Na frase, não existe um constituinte que funcione como sujeito da predicação, mas, em casos desta natureza, é comum a interpretação de que o locutor se refere ao «agora» (momento em que fala) ou ao «hoje» (intervalo temporal em que fala):
(5a) «[Hoje] está um dia bom.»
Em termos sintáticos, a frase (5) tem, deste modo, um sujeito nulo e um predicativo do sujeito («um dia bom»).
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1. Para mais informações, cf. Raposo in Raposo et al., Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 1327-1333.