Embora no Brasil, a sequência gráfica <sc> seja considerada um dígrafo, porque se trata de duas letras (grafemas) que representam um único som (segmento), acontece que, em Portugal e noutros países de língua portuguesa, a situação é um tanto diferente. Com efeito:
a) na pronúncia cuidada, sc antes de e ou i marca a sequência de duas consoantes: descer soa como "dechser", e nascer como "nachser";
b) na pronúncia normal ou rápida, sc corresponde ao "ch" de chave: descer torna-se "decher", e nascer é "nacher"1.
Tendo em conta a), conclui-se que <sc> não é um dígrafo nas variedades de Portugal e de outros países. Contudo, olhando para b), pode aceitar-se que sc seja um dígrafo, se bem que de realização fonética diferente da que parece mais generalizado no Brasil.
Em síntese, a grafia sc não é assim tão inútil, porque não só permite abranger diferentes realizações fonéticas entre os falantes de língua portuguesa mas também marca a realização de dois segmentos da pronúncia que, fora do Brasil, muitos podem adotar. É de notar ainda que a sequência mn ainda hoje é útil, porque, em Portugal, é pronunciada em palavras como amnistia ou omnívoro2.
Numa perspetiva exclusivamente brasileira, independente de outras variedades do português, poderá antever-se a supressão desse par de letras, mas, por enquanto, não parece que a consideração de uma língua brasileira autónoma reúna consenso.
1 A descrição dos dialetos de Portugal, regista a pronúncia de sc como o c de face (símbolo fonético [s]), tal como ocorre no português do Brasil. Em certos dialetos portugueses, descer e nascer soam, portanto, como "decer" e "nacer" (ver Textos relacionados).
2 Os dicionários brasileiros consultados consignam anistia e onívoro (cf. Dicionário Houaiss), embora, em relação a este último caso, lhes seja possível registar omnívoro, a que não parecem dar preferência, remetendo para onívoro (cf. Dicionário Michaelis).