Na actualidade, a interjeição ó usa-se em situações informais ou em registos literários. Mas, por exemplo, não ocorre nunca em contexto formal, pelo que é desadequado dizer «Ó Sr. Presidente da República» ou «ó Majestade» numa cerimónia oficial.
Acrescente-se que a interjeição pode ser usada com pessoas e outros seres vivos, bem como com abstracções. Quanto à sua distribuição geográfica, não tenho dados, mas penso que se pode afirmar que a interjeição ó é conhecida em todas as variedades de português.
A respeito da etimologia, lê-se o seguinte no Dicionário Houaiss: «lat[im] ō, às vezes ŏ antes de uma vogal breve, interj[eição]. empregada para chamar, para invocar; exprime t[am]b[ém] desejo, admiração, perturbação, dor etc. [...].» Sobre o uso no passado, não conheço estudos sobre a sua distribuição na documentação escrita disponível, que abrange textos literários e não literários escritos. Em Os Lusíadas, os títulos ou nomes de figuras de alto estatuto ocorrem em vocativos introduzidos por ó:
«E não cuides, ó Rei, que não saísse/O nosso Capitão esclarecido/A ver-te, ou a servir-te [...]»
Acontece que este tipo de contexto, de intenção literária, pouco nos diz sobre o emprego formal da interjeição, porque a ocorrência desta na poesia clássica do século XVI pode muito bem dever-se à imitação da retórica latina. Quanto a contextos não literários, o que se pode verificar em documentos notariais é que a interjeição não ocorre (ver Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira).