Não é fácil dar resposta a esta questão.
Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que existe a diferença, assinalada pelo consulente, entre «à vontade» (locução adverbial) e à-vontade (substantivo).1 Depois, deve-se atentar na possibilidade de o prefixo super- ter uso como palavra autónoma, com o significado de «muito» e função adverbial e adjetival, em registo familiar, conforme se regista no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (mantenho a ortografia da edição de 2001):
«[...] funç. adv. Fam. Usa-se antes de adjectivos e advérbios para indicar grau ou intensidade elevada. ≃ MUITO ≠ POUCO. Estou super interessado. Fica super longe. [...] funç. adj. Fam. Que se destaca em relação aos demais pela sua excelência, superioridade... Aquele carro é super.»
Refira-se também que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Porto Editora, publicado nos finais de 2009, atribui entrada própria a super, classificando esta forma como advérbio. É de observar, no entanto, que esta grafia representa uma palavra aguda ou oxítona ("supér"), e não uma palavra grave ou paroxítona, que é como soa geralmente o morfema, mesmo quando ocorre como prefixo ("súper"). Para que a grafia pudesse representar a acentuação grave, deveria escrever-se súper, com acento agudo sobre a penúltima sílaba, à semelhança de híper (cf. Vocabulário da Língua Portuguesa, do ILTEC, e VOLP, da Porto Editora). Parece-me, portanto, mais adequado escrever súper, em lugar de super, quando se trata da grafia do advérbio, muito embora se trate de forma não atestada nem legitimada pelos dicionários mais ou menos recentes.
Sendo assim, sugiro que, com a locução adverbial «à vontade», se deve usar super (ou súper, pelas razões apontadas), com o mesmo valor de muito, isto é, como advérbio, sem hífen: «super à vontade» (ou «súper à vontade»).
Já com o substantivo à-vontade, deveria usar-se a forma prefixal super-, tal como acontece com super-homem e supermercado, mas assoma uma grande dificuldade: não existem critérios que permitam conciliar a grafia de um prefixo com a grafia de compostos que apresentem um primeiro elemento acentuado, como à-vontade. Por outras palavras, sabe-se que o prefixo super- se deve empregar com hífen antes de h ou r (super-homem, super-revista; cf. Base XVI, 1 d), do Acordo Ortográfico de 1990) e sem hífen antes de qualquer outra letra (superinfeção, supermodelo). Não constituindo à-vontade um caso de segundo elemento começado por h ou r, seria de calcular que se lhe aglutinasse o prefixo, obtendo-se a forma não atestada "superà-vontade", que é também estranhíssima à luz dos padrões da ortografia portuguesa.
Para sair do impasse, penso que, em alternativa, deve recorrer-se à forma adverbial super (ou "súper"), associando-a ao composto à-vontade, de modo a formar um novo composto gráfico: «super-à-vontade» (ou «"súper"-à-vontade»). Outra opção seria aceitar que super (ou "súper") é também um adjetivo, sinónimo de enorme, modificando o substantivo à-vontade e sem necessidade de hífen: «um super/"súper" à-vontade» = «um enorme à-vontade». Deixo as duas possibilidades, sem me decidir por nenhuma, porque considero estarmos perante um caso excecional, que não é resolvido de forma inequívoca pelas regras ortográficas vigentes.
1 Assinale-se, porém, não haver consenso sobre a grafia a dar ao uso desta expressão como substantivo. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras e a versão impressa do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora registam «à vontade», sem hífen, forma classificada quer como substantivo comum quer como advérbio (talvez fosse mais adequada a classificação como locução adverbial, uma vez que se trata de duas palavras gráficas). No entanto, na versão em linha do VOLP da Porto Editora e no Vocabulário Ortográfico do Português do ILTEC, escreve-se à-vontade, com hífen. Opto pela forma à-vontade, por um lado, para a contrastar com a locução adverbial «à vontade», que o novo AO prevê não ter hífen (Base XV, 6 d), por outro, porque se trata não de uma locução substantiva em que intervenha um elemento de ligação (isto é, como fim de semana), mas, sim, de duas palavras gráficas justapostas — muito embora a presença de elementos de natureza preposicional neste tipo de compostos não seja considerada neste tipo de compostos pelo AO, que apenas enumera casos em que os elementos constituintes têm natureza nominal, adjetival, numeral e verbal (p.ex., ano-luz, guarda-noturno, primeiro-sargento, guarda-chuva; cf. AO, Base XV, 1).