A forma pirê não se encontra ao mesmo nível que a alternância ou facultatividade entre puré e purê. Pirê é um brasileirismo que deve ter entrada própria num dicionário. Não é, portanto, uma variante gráfica que se soma à alternância puré/purê.
Em contrapartida, as formas puré e purê são variantes fonéticas e gráficas da mesma palavra e, por isso, deverão ser contempladas na mesma entrada lexicográfica. Estas variantes enquadram-se pelo princípio da dupla acentuação que, explica o anexo II da legislação portuguesa ao Acordo Ortográfico de 1990, surgiu «como a solução menos onerosa para a unificação ortográfica da língua portuguesa». O referido anexo esclarece ainda o seguinte sobre o sistema de acentuação gráfica (bases VIII a XIII):
«2.3. Encontramos igualmente nas oxítonas [v. base VIII, 1.º, a), obs.] algumas divergências de timbre em palavras terminadas em e tónico, sobretudo proveniente do francês. Se esta vogal tónica soa aberta, recebe acento agudo; se soa fechada, grafa-se com acento circunflexo. Também aqui os exemplos pouco ultrapassam as duas dezenas:
bebé ou bebê, caraté ou caratê, croché ou crochê, guiché ou guichê, matiné ou matinê, puré ou purê; etc. Existe também um caso ou outro de oxítonas terminadas em o ora aberto ora fechado, como sucede em cocó ou cocô, ró ou rô.
A par de casos como este há formas oxítonas terminadas em o fechado, às quais se opõem variantes paroxítonas, como acontece em judô e judo, metro ou metrô, mas tais casos são muito raros.»
Concluindo, não vejo que, neste caso, o novo acordo ortográfico desrespeite as variedades regionais.