Os termos em questão nem sempre se distinguem claramente, podendo muitas vezes substituir-se mutuamente. Tentarei aqui contrastá-los como termos da descrição lexical, ciente de que os conceitos a eles associados se sobrepõem e confundem.
1. Expressão vs. locução
No dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, expressão tem, entre outros significados, o de «palavra ou grupo de palavras», sendo sinónimo dos termos locução, termo, vocábulo. Como locução refere sempre grupos de palavras, e termo e vocábulo costumam ser aplicados a palavras isoladas (simples ou compostas), dir-se-á antes que expressão é termo genérico que os abarca aos três; é, portanto, o seu hiperónimo.
Locução, como se vê, é usado como hipónimo de expressão; tem, portanto, um sentido mais específico: «grupo de palavras que funcionam, semântica e sintacticamente[,] como um todo, qu equivalem a um só vocábulo» (idem).
Note-se, contudo que locução corrente e locução popular ocorrem muitas vezes como o mesmo que expressão corrente e expressão popular, respectivamente. Estas locuções ou expressões são também equivalentes às expressões idiomáticas.
2. Locução corrente vs. locução popular
A diferença entre locução corrente e locução popular está no contraste entre registos linguísticos. Uma expressão corrente é usada num registo neutro, sem grandes desvios em relação à norma-padrão; p. ex.: vir ter a, «chegar»; vir ter com, «encontrar-se com». Uma locução popular evoca ambientes rurais ou citadinos de tradição não-erudita; são exemplos de locuções deste tipo: «esticar o pernil», «molhar a goela», «dar de frosques». As locuções correntes e populares podem constituir frases, que o uso fixou (sobre frases fixas, ver a resposta O mais tardar). Note-se, porém, que uma expressão popular pode ser também corrente, pelo que não se pode dizer que haja uma fronteira nítida entre os conceitos associados aos termos em apreço.
3. Frases feitas
Sobre frases feitas, há quem as identifique como locuções, mas outros consideram-nas fraseologias, não se confundindo com locuções, como faz o Dicionário Houaiss:
«neste dicionário, faz-se uma diferença entre fraseologia ("expressão idiomática") e locução, sendo que a primeira é mais longa e ger. possui verbo, e a segunda é um sintagma ou locução cristalizada, com sentido figurado ou não.»
O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa define frase feita como «expressão consagrada pelo uso, que encerra um sentido particular» e «locução estereotipada».
Quanto a «beber a água dos ribeiros» e «comer pedras», não são expressões fixas, mas, ao que parece, criações do próprio Miguel Torga no conto "Natal" (Novos Contos da Montanha), que começa assim:
«De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis por se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser — e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras!»
Não conseguindo a personagem do mendigo obter nenhuma esmola para sobreviver, resta-lhe apenas o que a Natureza dá, água e pedras, o mesmo é dizer: nada que lhe garanta a subsistência ou o mínimo conforto.