Tal como o consulente sugere, a frase – «Todas quanto abraçaram esta via foram bem-sucedidas» – está incorreta. A forma correta tem de apresentar «quantas»: «Todas quantas abraçaram esta via foram bem-sucedidas».
Acontece que o pronome relativo quanto, na frase em apreço, funciona como especificador de um nome implícito, e tem um antecedente – todas1 – que expressa quantificação. Ora, nestes casos, o relativo quanto deve concordar em género e em número com o nome que específica e que está marcado pelo pronome indefinido todas:
1. «Todas quantas [pessoas] abraçaram esta via foram bem-sucedidas.»
Acrescente-se que quanto pode ter tudo como antecedente3 e, nesse caso, é invariável:
2. «Em tudo quanto abracei, fui bem-sucedido.»
Em suma, em (1) o pronome relativo quanto funciona como especificador de um nome implícito, e, neste caso, quanto é variável; em (2) quanto tem tudo como antecedente, e, assim, é invariável.
1 No tipo de contexto em questão, a atribuição de todo a uma classe de palavras não reúne consenso terminológico. No Brasil, em âmbito não universitário, considera-se que é pronome indefinido (cf. Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959 e Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pp. 196/197). Em Portugal, o Dicionário Terminológico (DT), destinado a apoiar os estudos gramaticais nos ensino básico e secundário, classifica todo como quantificador, se acompanha um nome («todas as pessoas vieram»), e como pronome indefinido («todas vieram»), se figura sem nome; mas, numa perspetiva mais aprofundada, a Gramática do Português – GP (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 723) inclui os plurais todos e todas entre os quantificadores universais quer apareçam associados a nomes quer ocorram isoladamente.
2 A classe de palavras de quanto também não é consensual. Na gramática tradicional é pronome relativo (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, p. 351), termo que também lhe aplica a GP. Contudo, mais recentemente, em Portugal, as formas quantos e quantas são incluídas entre os quantificadores relativos.
3 O pronome tudo pode estar implícito: «comeu quanto havia em casa» é, portanto, equivalente a «comeu tudo quanto havia em casa». Cf. Gramática do Português, 2013, p. 2099.