DÚVIDAS

Adjuntos nominais coordenados
Minha dúvida é a respeito da concordância nominal com sujeitos ligados por ou. As gramáticas explicam, mas somente quando se trata de concordância verbal. É correto dizer: «A classificação de propriedades industrial ou comercial», «O sistema circulatório ou o digestivo», «O sistema de educação ou de substituição» ou, ainda, «Os sistemas de educação ou substituição»? Como podem ver, utilizo as mesmas regras com sujeitos ligados por e (como as gramáticas não explicam, penso que, talvez, as regras são as mesmas). Vejo frases escritas de outras maneiras, por exemplo «A classificação de propriedade industrial ou comercial», que não interferem na compreensão, por isso penso que, talvez, as duas formas sejam possíveis (porém, uma pode ser mais formal, só não sei qual). Desde já agradeço.
Sobre alguns particípios passados
De vez em quando ouço dicções como estas: abrido, fazido, escrevido, cobrido etc. Sei que são proferidas por pessoas cujos conhecimentos gramaticais são bastante limitados ou praticamente inexistentes. Ainda assim, na qualidade de estudioso do idioma português, não as considero formas errôneas. Parecem-me antes expressões obsoletas, antiquadas, desusadas, não necessariamente erradas. Concordais comigo?
As mudanças fonéticas ocorridas na língua e o património histórico
Agradeço à equipa do Ciberdúvidas pelas respostas dadas anteriormente, e à senhora Ana Carina Prokopyshyn, por ter-me auxiliado na resposta 28 400. Mas, ainda tendo algumas dúvidas, peço o vosso auxílio. Tendo em vista o que a senhora Ana Carina Prokopyshyn escreveu no trecho — «Estes desvios ou desarticulações são próprios da linguagem corrente, ou seja, são tendências do registro oral, mas devem ser evitados, principalmente na escrita, pois nos dias de hoje existem normas e convenções que devemos seguir» — ocorrem-me algumas questiúnculas. No trecho «Estes desvios ou desarticulações são próprios da linguagem corrente, ou seja, são tendências do registro oral,» pode ser aplicado ao que se encontra na obra de Camões, Os Lusíadas, uma vez que se encontra formas como «ingrês»? Em «Mas devem ser evitados, principalmente na escrita», isso levaria a uma inibição de novas formas fonéticas e estagnação na língua? Como ajustar esta conceção com as mudanças constantes que a língua viva sofre? «Pois nos dias de hoje existem normas e convenções que devemos seguir.» Por que as mudanças fonéticas ocorridas na passagem do latim para a língua portuguesa são aceitas e as que ocorrem dentro da própria língua não são aceitas, ou mal vistas, dependendo da classe social em que ocorrem? Só se considera uma forma legal e aceita aquela admitida na elite erudita que forma a língua? Mas quando nos recordamos que a língua portuguesa estruturou-se, tendo como base o latim vulgar, não entraria em contradição o pensamento cultivado pela norma culta de uma língua «perfeita»? Ainda não consigo compreender as discussões e as dimensões das implicações que decorrem de críticas feitas à norma culta do português. Vemos muitos argumentos em prol de mudanças na norma culta, mas que argumentos podem ser elencados para salvaguardar nosso patrimônio histórico e nossa tradição perpetuados na língua? Agradecido pela atenção e consideração sempre prestada por todos vós.
A relação entre o domínio da língua e o desenvolvimento do país
Gostaria de saber se há algum estudo sobre progresso/desenvolvimento que possa estabelecer uma relação entre o domínio da língua/idioma e o desenvolvimento do país. Falo isso porque vejo a língua portuguesa ser massacrada dia após dia, não só em favelas ou escolas públicas, mas também em universidades, empresas e no governo. As pessoas não se importam se está certo ou errado — português é complicado e pronto. Há um conceito geral de que a língua é um entrave ao desenvolvimento de ideias numa conversa, numa explanação, quando na verdade a compreensão devida de vocabulário e técnicas de linguagem facilitam a comunicação, a compreensão de informação, o desenvolvimento de ideias, e isso tem total relação com criatividade, inovação e autonomia — ao meu ver, ingredientes indispensáveis para o progresso de um país. A educação no Brasil passa por problemas estruturais, fundamentais, e a cada dia mais e mais jovens de formação medíocre são inseridos no mercado de trabalho, graças a uma formação permissiva e vazia. Escolas públicas não reprovam mais. E faculdades particulares só se interessam pela devida manutenção de caixa. O mercado de trabalho conta com critérios pouco criteriosos de seleção - e seus dirigentes não chegam a ser exemplo de desenvoltura com a língua portuguesa. A única salvação seria o mercado consumidor, que se vende por preço e não por qualidade, então não interessa muito ser da China, dos EUA ou do Brasil, sendo barato é o que importa. Não há critério – e sem critério não há desenvolvimento. Vejo a sociedade cada vez mais ignorante, uma total desconsideração com a língua portuguesa, como se ela fosse apenas uma disciplina chata da escola e ninguém consegue relacionar de fato a ligação que existe entre o desenvolvimento de uma nação e o domínio da sua língua-mãe. Acho isso preocupante e coloco a questão. Grande abraço.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa