Da pesquisa que realizámos1, verificámos que o termo polimedicado não se encontra dicionarizado, apesar de poli- («elemento de composição culta que exprime a ideias de “muitos, vários, grande número, indefinido e elevado”»)2 e medicado (particípio do verbo medicar, «prescrever medicação, medicamentos; administrar ou ingerir medicamentos»)3 estarem atestados.
Se considerarmos os casos de palavras formadas com o elemento de composição poli- [«do grego poly- de polys, «numeroso; grande; alto; elevado; vasto; espaçoso; comprido; de grande valor» (José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, IV, Lisboa, Horizonte, 1987)] — tal como «poliartrite (poli- + artrite), artrite generalizada a várias articulações», «policlínica (poli- + clínica), instituição médica onde se dão consultas de clínica geral e de diversas especialidades», «policlínico (poli- + clínico), médico que exerce a policlínica ou clínica geral», «policelular (poli- + celular), constituído por várias células», «policromático (poli- + cromático), de diversas cores», «polidesportivo (poli- + desportivo) diz-se de recintos que podem ser utilizados para a prática de diversas modalidades desportivas», «polifuncional (poli- + funcional), que pode desempenhar diversas funções» —, damo-nos conta de que se trata de palavras formadas com poli- + substantivo/nome ou adjectivo, o que confere ao nome ou adjectivo o valor de multiplicidade e de variedade.
Ora, embora os particípios possam ser usados como adjectivos, o uso de "polimedicado" não se afigura adequado, quando se interpreta a associação semântica dos seus constituintes. Apesar de se dizer «ele está medicado», isso significa que a essa pessoa foi prescrita medicação, foram administrados medicamentos, que foi objecto de acção de alguém, parecendo-nos estranha uma frase como «ele está polimedicado».
1 Fontes: Francisco da Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, 6.º vol., São Paulo, Ed. Saraiva, 1967; Michaelis: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo, Melhoramentos, 1998; Aurélio Buarque da Holanda, Novo Aurélio: o Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999; Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001; Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004.
2 Fontes: José Pedro Machado, ob. cit.; F. Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, Coimbra, Coimbra Editora, 1966; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004.
3 Fontes: Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia de Ciências de Lisboa, 2001; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004.