DÚVIDAS

Concordância com o antecedente do pronome relativo que
Considero que nas frases «vinde a mim vós todos os que andais fatigados» e «eu sou o pão vivo que desci do céu» há erros de concordância, dado que os pronomes relativos se referem à 3.ª pessoa. Sendo assim, o correcto seria «vinde a mim vós que andais fatigados»/«vinde a mim todos os que andam fatigados» e «eu sou o pão vivo que desceu do céu»... Ou haverá uma explicação que considere aceitáveis estas estruturas?
Sobre a forma "enáuenê-nauê" (dupla acentuação)
Não existem na língua portuguesa palavras com dois acentos gráficos. Creio que essa regra está bem estabelecida e confirmada. Assim sendo, gostaria que algum dos consultores comentasse o fato de o recém-publicado VOLP da Academia Brasileira conter (e não é no capítulo de palavras estrangeiras) a palavra "enáuenê-nauê" adj. s. 2 g. s. m.; pl. "enáuenês-nauês" (página 310, terceira coluna da 5. edição) ("enáuenê-nauê" é o gentílico de uma tribo brasileira, creio). Se atentarmos à primeira parte "enáuenê-" da palavra, surgem-nos dois acentos. Toda a palavra tem três acentos gráficos. No VOLP da Academia, quarta edição (que pode ser consultado em linha no página Internet da Academia) o mesmo termo surge. Será que o VOLP da Academia Brasileira está errado? Não seria antes "enauenê-nauê"? Ou escapa-me aqui alguma coisa? Muitíssimo grato.
Cádis
Um Acordo traz bases que me parecem sugerir respeito aos países lusófonos. Todavia, quando diz assim: «Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e em com as formas do artigo definido, com formas pronominais diversas e com formas adverbiais» (Base XVIII, do Apóstrofo); ou «A propósito, deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não oxítona: Cádis, e não Cádiz» (Base III, Da homofonia de certos grafemas consonânticos), não transformaria o que poderia ser uma prescrição em uma proscrição que fere o princípio de autonomia dos povos de cultura lusófona? Escrever, por exemplo, Cádis ou "Cádiz" não é, em se tratando de nomes próprios, uma opção de variação ortográfica dos falantes e escreventes da língua portuguesa?
Novo acordo, trema
O Acordo Ortográfico, de forma muito incisiva ou visceral, diz suprimir "inteiramente" o trema das palavras em língua portuguesa. Observamos tom severo quando o Acordo estabelece: «O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc.» Quer dizer nem mesmo no campo da poesia, terreno fértil da escrita e reescrita critiva do texto, o trema é aceito. Todavia, quando chega aos nomes próprios, isto é, o respeito às propriedade privada, no contexto de dominação político-econômica, suaviza assim: «Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3.º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.» (Base I, 3.º, do Acordo); ou mais adiante reafirma ainda: «Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3.º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.» (Observação, Base XIV, do Acordo). Não são dois pesos e duas medidas para um Acordo que se propõe a tratar os desiguais (falantes ) como sendo iguais (cultura lusófona)?
O substantivo sobredeclaração
Num texto comunitário traduzido para português li a "palavra" "sobredeclaração" no sentido de, por exemplo, uma área de vinha que não pode ser declarada mais do que uma vez para medidas de apoio, ou seja, não poderá haver "sobredeclaração". Poder-me-ão informar se haverá alguma palavra na língua portuguesa que possa ter este significado, tendo em consideração que me parece que a utilizada no texto não existe. Muito obrigado.  
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