DÚVIDAS

O nome tchutchuca
Tenho-me deparado com o uso de tchutchuca no português do Brasil. Por exemplo:  «Assim, enquanto Musk se comporta como um "tigrão" no Brasil, enfrentando abertamente as autoridades, na Europa, ele assume o papel de "tchutchuca", cedendo rapidamente às exigências regulatórias»   (revista Forum, 05/09/2025) ) «Desmoralizado, Bolsonaro tenta de todas as formas pregar a imagem de "radical" nas redes, no entanto, até mesmo entre os seus apoiadores, o ex-mandatário se revelou "tchutchuca" do STF [Supremo Tribunal Federal]» (revista Forum, 16/04/2025) ). Gostaria que comentassem esta palavra, que não parece ter registo em dicionários elaborados em Portugal.
A construção «tem vindo a» + infinitivo
Na resposta de 12.05.2017 à minha pergunta sobre o tema, o consultor Carlos Rocha falou do valor concessivo da perífrase verbal vir a + infinitivo, talvez porque fosse possível atribuir-lho ao exemplo específico que dei. Interessava-me, no entanto, o aspecto durativo que somente tem a perífrase no pretérito perfeito composto, mas não no simples, como no exemplo seguinte: «O Governo detalha esta quinta-feira as medidas para ajudar a aliviar o aumento das mensalidades do crédito à habitação, que têm vindo a escalar devido à subida das taxas de juro do BCE.» (Expresso, 18.09.2023) É à perífrase no pretérito perfeito composto, com aspecto durativo e sem valor concessivo, que me referia quando disse ser inexistente no português brasileiro. Inexistente também no PB é a construção ter estado a + infinitivo*, quase sempre empregada no PE com a mesma acepção de ter vindo a + infinitivo, do que é prova a possibilidade da seguinte reformulação da citação anterior, sem mudança aparente do sentido: «O Governo detalha esta quinta-feira as medidas para ajudar a aliviar o aumento das mensalidades do crédito à habitação, que têm estado a escalar devido à subida das taxas de juro do BCE.» No PB, parece-me que sempre se empregaria ter + particípio. Quando muito, caso se sentisse a necessidade de dar à ação um aspecto ao mesmo tempo durativo e progressivo, usar-se-ia vir + gerúndio. Assim, diríamos: «As mensalidades têm escalado.» «As mensalidades vêm escalando.» Uma busca ao Corpus do Português, do Mark Davies, encontrou resultados que, à primeira vista, confirmam a minha hipótese de se estar diante de inovação do PE, e não anterior ao século XX, já que não há ocorrências do mesmo tipo de construção com idêntico aspecto durativo antes do século passado, com a possível exceção da seguinte, extraída de Os Gatos: «[...] que é isto, senão assentar cúpula infame num edificio d'estimulos condenáveis, que as pobres têm vindo a sentir levantar-se dentro delas (mercê das causas que atrás pus) e que às propensas dará a noção de que a formosura é uma coisa que publicamente toma o passo à virtude (...)» (Os Gatos, de Fialho de Almeida) Diante do exposto, pergunto: que sentidos específicos têm ter estado a + infinitivo e ter vindo a + infinitivo (sem o valor concessivo de vir a + infinitivo) que faltariam a ter + particípio e a vir + gerúndio, considerando que as duas últimas construções também não são estranhas ao PE e são compartilhadas com o espanhol, nas mesmas acepções? Grato pela atenção. * Existe a construção que seria de esperar, no PB, como equivalente à do PE, i. e., ter estado + gerúndio, mas é, no caso do PB, evidente decalque do inglês, encontrável apenas no PB escrito, em textos de estilo comparável ao daqueles em que se encontram construções como ir (presente ou futuro do indicativo) + estar (infinitivo) + gerúndio.  
O verbo bulir: «isto bole comigo»
O Ciberdúvidas e outros sítios esclarecem perfeitamente que «no presente do indicativo, bulir muda o u do radical em o na 2.ª e 3.ª pessoa do singular e na 3.ª do plural» – ver aqui, aqui, aqui e aqui. A minha questão é se terá havido uma gralha do Ciberdúvidas ao conjugar o verbo bulir como «eu bulo, tu bules, ele bule...» aqui [resposta "Ainda compelir, gerir, computar, bulir e cerzir"].:  https://ciberduvidas.iscte-iul.pt E também não  terá havido uma gralha do Dicionário da Academia das Ciências no seguinte exemplo: «A primavera bule com ele, está muito impaciente»?
Modalidade epistémica: «Efetivamente, é um conto muito bonito!»
Gostaria de esclarecer se na frase seguinte estamos perante modalidade epistémica ou apreciativa: «Efetivamente, «George» é um conto muito bonito!». Por um lado, o locutor parte de uma certeza, pelo que parece tratar-se de modalidade epistémica, por outro lado, o advérbio «muito» e o ponto de exclamação parecem fazer do enunciado uma apreciação (modalidade apreciativa). Poderiam esclarecer-me? Grata pela atenção.
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