Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Campo linguístico: Coesão/Coerência
Diogo Amado Estudante Leiria, Portugal 7K

Imaginando, por exemplo, que se tem um artigo com uma lista das várias categorias de veículos existentes, e exista uma alínea desse artigo que diz o seguinte:

«Categoria B: Carrinhas de transporte de mercadorias e carrinhas de transporte misto até 3000 quilos.» A qual das carrinhas se referem os 3000 quilos? Referem-se apenas às carrinhas de transporte misto, ou às duas carrinhas em causa?

Obrigado.

Thiago Pin Desenvolvedor Vila Velha, Brasil 5K

É possível a separação do verbo e seus objetos?

Minha dúvida originou-se ao resolver o seguinte item de uma prova:

A questão dizia ser possível inserir sinal de dois-pontos depois de foram preservando a correção gramatical e a coerência textual.

O gabarito afirmava ser possível.

Eis o trecho:

«Os instrumentos utilizados foram a política de preços de energia, a política tecnológica e a política de incentivos e subsídios, além das medidas de restrição ao consumo através do estabelecimento de quotas às empresas do setor industrial.»

Isso se procede? Por quê?

Fernando Bueno Engenheiro Belo Horizonte, Brasil 3K

Parece-me estranha, na frase apresentada pelo consulente Nuno Pinho Melo em 5/2/2009, a coocorrência das conjunções e e todavia, embora admitida pelos distintos consultores Carlos Rocha e Rui Gouveia. A par da evidente redundância, pois ambas têm valor adversativo, ainda há o empobrecimento do estilo e da concisão.

«O homem corria, mas era lento» ou «O homem corria, e era lento» ou «O homem corria, todavia era lento». Mais simples e mais elegante.

Fernando Pestana Estudante Rio de Janeiro, Brasil 4K

Existe que tipo de coesão quando um texto é produzido apenas de orações absolutas? Por exemplo, «Acordou. Levantou. Andou. Lavou-se. (...)»

Grato.

Humberto Azevedo Jornalista Brasília, Brasil 67K

Quero confirmar ou saber se a palavra pois pode ser utilizada para iniciar frases ou se somente pode-se utilizá-la como um conjuntor. Exemplo:

«Louvamos a plena e sábia decisão dos maiores juízes do Brasil. Pois, acertaram ao manter tal norma. A democracia brasileira agradece.»

Ou:

«Louvamos a plena e sábia decisão dos maiores juízes do Brasil, pois, acertaram ao manter tal norma. A democracia brasileira agradece.»

Vera Costa Estudante Porto, Portugal 33K

Queria perguntar quais são os conectores de discurso mais utilizados no discurso político? Quais as características e estrutura do discurso político? Estas perguntas relacionam-se com o programa escolar de 11.º ano – Português.

Rejane Marques Professora Belo Horizonte, Brasil 4K

Existe algum tipo de redação em que se desobriga o uso de título?

Elizabete Gomes Professora e estudante Florianópolis, Brasil 54K

Gostaria de saber a classificação gramatical da expressão «para tanto» e sinônimos.

Oliveira Ramos Professor Aveiro, Portugal 6K

Quanto à discussão das frases «A profissão dele é professor.» e «A profissão dele é a de professor.», verificamos que as nossas prezadas Ciberdúvidas, a quem temos motivos para estar muito agradecidos pelos excelentes serviços que prestam, referem como evidentemente melhor e mais exacta a expressão «a profissão dele é a de professor.»

Ora esta declaração da evidência da qualidade superior e da exactidão da segunda frase levanta-me... novas dúvidas. Será que é assim tão evidente? A minha posição actual é a de que as frases merecem semelhante valorização, por pertencerem ao mesmo nível, padrão, de linguagem e serem funcionalmente equivalentes, o que não significa que não incorporem algumas diferenças, como abaixo expresso. Estilisticamente, não creio que a frase sem o pronome a seja inferior, como abaixo também expresso.
Para começar, estabelecendo cadeias em que as expressões revelem bem os seus sentidos, consideremos a sequência de frases:

Médico é uma profissão. Canalizador é uma profissão.

Professor é uma profissão e é a profissão dele. A profissão dele é professor.

E consideremos estoutra sequência de frases:

Existe a profissão dele. É a de professor. A profissão dele é a de professor.

Será que uma destas formulações é evidentemente melhor do que a outra? De acordo com o parecer dado pelas Ciberdúvidas, as questões em causa são mais de ordem semântica do que sintáctica. No entanto, os significados das duas frases são imediatamente reconhecidos como idênticos e claros por qualquer lusófono, que, à partida, nunca iria pensar em significados que envolvam a ideia de que a «profissão» é «um professor». A esta estranha ideia contraponho outras matizes semânticas relativas à aplicação do verbo ser, bem como a consideração do seu efeito em cada um dos casos, como explico abaixo. Note-se, de passagem, que na frase «Médico é uma profissão.» ninguém pensará que «o médico» é «uma profissão». Que risco haverá, então, de «a profissão» ser «um professor»? Claro que ninguém pensa assim ao formular ou ao receber uma destas frases.

Na frase «A profissão dele é a de professor.», a utilização do pronome a invoca a palavra profissão, pelo que a frase equivale a «A profissão dele é a profissão de professor.» Aqui, o verbo ser é utilizado para estabelecer uma relação directa, de tipo comparativo, de identidade entre duas coisas da mesma natureza, duas profissões: a profissão dele e a profissão de professor. Por via do verbo ser, diz-se que a profissão dele e a profissão de professor são iguais, ou melhor, a mesma.

Já na frase «A profissão dele é professor.», o verbo ser estabelece um relação que não é de identidade directa, mas sim de atribuição selectiva entre duas coisas de natureza distinta, um homem e uma profissão: do universo das profissões, a que pertencem médico, canalizador, professor e outras, a que é dele é professor.

Em termos de exactidão, as duas formulações são equivalentes, pois nos dois casos não há qualquer incerteza ou especificação potencialmente errónea: ele é professor, ou seja, a profissão dele é professor, ou seja ainda, a profissão dele é a (profissão) de professor.

Passando a um plano estilístico, se bem que a expressão com pronome a possa, segundo algumas opiniões, parecer mais "refinada", ela é mais retorcida, uma vez que o pronome a introduz redundância relativamente ao termo que é o sujeito da frase e que dista de apenas duas palavras: «A profissão dele é a (profissão) de professor.» Não me parece que esta formulação seja superior a «A profissão dele é professor.» Não admira que a forma «A profissão dele é professor» seja mais corrente, se evita a referida redundância. E a menor frequência de uma expressão não a torna, por isso, superior. Não sem ironia, digo: a este mesmo nível, estilístico, não seria até de abandonar as duas expressões e adoptar, se quisermos criar certos efeitos, «Ele exerce o mester de docente.»?

Tudo isto, claro, «salvo melhor opinião»!

Fico a aguardar com interesse a resposta de V. Exas., que muito agradeço.

Fernando Pestana Estudante Rio de Janeiro, Brasil 5K

Li algo parecido no site quanto a minha dúvida, mas não entendi, logo faço minha pergunta ainda. Tanto em «O homem comprou um carro e, dois dias depois, uma casa» e «O jovem estava doente e com vários
furúnculos», há duas orações em cada frase (uma delas elíptica) ou não? Quando posso afirmar que numa frase há duas orações, ou mais, e uma delas elíptica?

Obrigado.