DÚVIDAS

O indicativo em lugar do conjuntivo
Sempre disse e ouvi duvidar na afirmativa com subjuntivo, mas vejo numa conceituada revista hebdomadária brasileira: «Duvido que o Brasil virá a ser um grande exportador de petróleo. Ninguém sabe qual é o custo de produzir sob a camada de sal.» Esta frase foi proferida por Albert Fishlow, economista americano, que certamente a pronunciou em inglês, e traduzida por alguém depois, o que descarta os lapsos que muitas vezes se cometem na linguagem falada. Por isso mesmo, pergunto-lhes: é lícito usar o indicativo aí? Talvez o tradutor tenha optado por esse modo por haver referência futura (vir a ser), já que o futuro do subjuntivo, existente em português, seria agramatical («duvido que o Brasil *vier a ser»). Usando o subjuntivo, teria de dizer-se algo como «Duvido que o Brasil passe a ser/seja algum dia/se torne ...». Saudações brasileiras.
Novo acordo, ói, mudas, trema, duplas
A dúvida que se segue refere-se ao Acordo Ortográfico. Concordo em certas partes com o mesmo e discordo noutras. Contudo, há um certo aspecto que me tem vindo a incomodar. Compreendo, e até concordo, que se façam mudanças que aproximam a escrita da oralidade, como em «acto», que passa a «ato», ou «actual», que passa a «atual». Compreendo também, embora discorde, que se afaste a escrita da oralidade em casos muito consagrados pelo uso, nomeadamente a desaparição do trema. Contudo, não consigo compreender mudanças que afastam a oralidade da escrita quando não são consagradas pelo uso. Parecem-me mudanças negativas. Por exemplo, a palavra heroico (sem acento ortográfico no «o») não teria a pronúncia esperada de /eˈrojku/ em vez de /eˈrɔj.ku/? Idem para jibóia, bóia, et cætera. Não seria expectável, visto que as duplas grafias pululam no novo Acordo (e muito bem, do meu ponto de vista), que se mantivesse a saudável e indolor dupla grafia também nestes casos? Ou haverá, porventura, alguma regra que permita distinguir quando se pronuncia a vogal na sua versão aberta e quando se pronuncia na sua versão fechada? (O que me traz, como aparte, uma nova dúvida: qual é a pronúncia expectável das vogais ‹o, e› quando tónicas, não acentuadas e regulares? Será /o,e/ ou /ɔ, ɛ/? Ou será a diferença puramente aleatória?) Outro ponto em que o Acordo Ortográfico falha, aparentemente, em melhorar a aproximação entre a oralidade e a ortografia, dá-se na questão da tão comentada supressão das consoantes mudas. Ora, aplaudo-a quando se dá em palavras como acto e actual, em que se trata, de facto, de uma redundância totalmente desnecessária. Mas e quanto a casos como acção, accionar, correcta e vector? Não se tratará a consoante muda, aqui, de algo mais que uma superficialidade descartável, para passar a ser uma necessidade à pronúncia correcta das palavras? Pois se pronunciamos /aˈsɐ~w~/ no lugar de /ɐˈsɐ~w~/, /asiuˈnar/ em vez de /ɐsiuˈnar/, /kuˈRɛtɐ/ por oposição a /kuˈRetä/ e /vɛˈtor/ em vez de /vɨˈtor/! Estaremos perante mais um caso em que o Acordo Ortográfico, no lugar de aproximar a ortografia da oralidade, as afasta, ou haverá algures uma regra ortográfica que permita, através da grafia, prever que a vogal é aberta naquelas posições específicas? Sem mais, agradeço antecipadamente a resposta.
Pára, para
Tem sido noticiado que o Acordo Ortográfico preceitua a supressão do acento agudo na terceira pessoa do singular no presente do indicativo do verbo parar. (Ele para o trabalho a meio; Para para já esse serviço; Trânsito para a Ponte Vasco da Gama). Tanto quanto julgo saber não há actualmente qualquer diferença gráfica entre a norma portuguesa e a brasileira no que diz respeito a este verbo. Se é de facto assim, por que motivo se propõe esta alteração? Fico muito reconhecido.
A factura pro forma
Já não me recordo do contexto em que li a palavra "pro-forme", mas, segundo uma colega minha, é sinónimo de «procedimento» (em geral) e/ou pode ser, mais especificamente, um documento representativo de despesa (uma espécie de factura antecedente ao pagamento). Pesquisei no portal Google e reparei que surge mais vezes com a grafia "pro-forme". Mas também encontrei a seguinte definição na Internet: «A Factura Pro-forma é um documento que acompanha o objecto, para indicar o valor da mercadoria sem valor comercial. É um documento dirigido a Empresa-Empresa que acompanha uma amostra ou produto para teste, sem existir transacção comercial. A Factura Pro-forma é idêntica a uma Factura Comercial, mas sem n.º de factura.» Aguardo esclarecimentos.
A palavra polainitos
A palavra "plainites" não se encontra registada no dicionário que possuo, mas os meus avós juram que a palavra existe e designava umas protecções que se usavam, antigamente, sobre os sapatos. Existe ou não? Galochas, por outro lado, surge no mesmo dicionário apenas com o sentido de «botas de borracha», quando me parece que também designaram um tipo de protecção semelhante para os sapatos. Muito obrigada pelo esclarecimento.
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