Para esclarecer bem o meu raciocínio, tomo a liberdade de lembrar:
a) A sequência vocálica ui, sem acento gráfico, é normalmente um ditongo decrescente (ex.: tafuis, uivar, Base VII).
b) Um acento converte este ditongo num hiato (ex.: influíste, juízes, Base X).
c) As sequências gui e qui são indissociáveis na translineação, quer o u se pronuncie ou não (Base XX), por haver tendência para serem pronunciadas numa só emissão de voz (u átono nestas sucessões é uma semivogal, e ui é um ditongo crescente [wi], ex.: lingüista no Brasil, linguista em Portugal, vendo-se que a eliminação do trema não altera a fonia do conjunto gráfico).
d) Os ditongos crescentes são instáveis, e, em fala lenta, podem ser pronunciados como hiatos (ex.: fêmeas ¦me-as¦, espécies ¦ci-es¦). Esta é a razão por que muitos linguistas recusam a existência de ditongos crescentes. No entanto, como, por exemplo, em água não é legítima a separação (nem em águas), segundo a Base XX, outros linguistas afirmam que este facto atesta a existência dos ditongos crescentes, aliás confirmada na Base XI do novo acordo.
Então, de acordo com c), é já em Portugal, e continuará a ser no novo acordo, sagui [gwí] (nome de macaco, plural, saguis). Segundo d), para que u fosse vogal tónica neste caso, teríamos de o acentuar: *Sagúi.
Como nota à margem e só para as ideias ficarem mais claras, e de acordo com a regra b), Peruíbe tem de ter acento para se dar a diérese do ditongo, caso contrário seria como em a).
Podia ficar por aqui. Honestamente, porém, como costumo fazer, e dado que estou a dirigir-me a uma senhora professora, que, pelos vistos, sente a língua em toda a sua profundidade, penso que devo confessar que também estou com alguma perplexidade.
De facto, no texto do acordo aparecem agora recomendadas as grafias tu «delinquis ¦ú¦», vós «delinquís», tu «arguis ¦ú¦». O que subverte as regras atrás indicadas.
Lembro que Rebelo Gonçalves, o Dicionário de Verbos Editora e o recente e amplo Houaiss português (2005) recomendam: tu dilinqúis, vós delinquis, tu argúis. Nota: em eles delinquem, a palavra só seria oxítona se fosse acentuada na nasal em; logo, segundo as normas, tudo se passando como se o acento tónico estivesse forçado no u graficamente.
Ter-se-ão os legisladores do acordo de 1990 enganado?
Há novas regras? Então, é necessário que os legisladores nos esclareçam, senão ninguém se entende.
Insisto que iremos todos escrever sagui [wi]. Mas comungo as suas dúvidas consigo, minha irmã na língua.
Diferenças neste texto para o novo acordo
Termos para Portugal: sem alteração.
Para o Brasil: sequência/s, linguista/s, ideias.
NOTAS: as duplas grafias não implicam alterações obrigatórias na escrita. Repare-se que neste texto há no novo acordo alterações para o Brasil e nenhumas para Portugal. Não me venham dizer que o sacrifício é só português…