Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

É gramaticalmente correta uma expressão como «a amargura do café ajudava-o a...», ou é preferível optar pela expressão «o amargo do café ajudava-o a...»?

Ou ambas estão corretas?

Resposta:

Nas diferentes orações temos «o amargo do café» e «a amargura do café». Em ambas, amargo amargura fazem parte do sujeito das orações e configuram sentido idêntico, ou seja, temos amargo como «sabor acre» (Dicionário da Porto Editora)  e amargura como «sabor amargo; azedume» (idem). Assim, ambas as orações estão corretas e são perfeitamente aceitáveis. 

Note-se, porém, que amargura, em sentido figurado, pode ainda significar «dissabor; aflição ou angústia», o que pode causar estranheza quanto à interpretação da oração, apesar de o significado dado ao termo, em «a amargura do café ajudava-o a...», se prender somente com a qualidade do café. Assim, e dada a ambiguidade que o termo amargura pode causar na interpretação da oração, talvez seja mais seguro optar-se por amargo ou sabor amargo.

Há ainda outro termo possível, amargor. Este termo pode também ele substituir os dois já citados, pois significa «qualidade de ser amargo, sabor amargo» (idem). Note-se que também ele tem sentido figurado de «angústia, amargura» (

Pergunta:

Não encontro dicionarizada a palavra "excitadiço". No entanto, além de me ser muito familiar, tenho encontrado, com certa frequência, alguns autores respeitáveis que a utilizam. Será legítimo?

Agradeço, desde já, a vossa atenção e disponibilidade.

Resposta:

Efetivamente não há registos do adjetivo excitadiço, usado com o sentido de «que se excita ou entusiasma facilmente». Acontece que, apesar de não existirem registos, este adjetivo é perfeitamente aceitável. À semelhança do adjetivo irritadiço, que se encontra registado nos mais diversos dicionários, o adjectivo excitadiço deriva por sufixação de excitado com o sufixo de origem latina -iço. 

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem da expressão comummente utilizada pelos mais velhos e pessoas do norte «são mais que as mães».

Resposta:

Nas fontes1 disponíveis não há registo da origem da expressão «mais que as mães». Não podemos, portanto, confirmar que esta locução tenha raízes no norte de Portugal. No entanto, há registo do seu significado no Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões, como «grande quantidade de pessoas».    

Guilherme Augusto SimõesDicionário de Expressões Populares Portuguesas, Publicações Dom Quixote: Lisboa, 2000; Sérgio Luís de Carvalho, Nas bocas do Mundo, Planeta: Lisboa, 2010; António Nogueira Santos, Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas, Edições João Sá da Costa: Lisboa, 2000; Emanuel de Moura Correia et al, Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, Papiro Editora: Porto, 2007.

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra continente é um nome comum ou nome comum coletivo?

Obrigada

Resposta:

Continente, substantivo masculino dicionarizado como «cada uma das extensões ininterruptas da superfície sólida do globo terrestre limitada por um ou mais oceanos (África, América, Antártida, Ásia, Europa e Oceânia)» (Dicionário da Porto Editora, em linha), não é considerado um nome coletivo. Para ser um nome coletivo – «conjunto de objetos ou de entidades do mesmo tipo» (Dicionário Terminológico) – poderia supor-se, por exemplo, que este substantivo significa «conjunto de países», mas tal não se verifica, porque o termo continente denomina não uma entidade política, mas, sim, uma unidade geográfica. Trata-se simplesmente de um nome comum (cf. Dicionário Terminológico).

Pergunta:

Depois de reticências deve recomeçar-se com letra maiúscula ou minúscula?

Resposta:

O uso de inicial maiúscula após reticências acontece quando a ideia expressa antes das reticências está concluída, mesmo que a conclusão seja num sentido vago: «Não tive tempo de ver isso... Toda a gente estava já à minha espera.»

Por outro lado, a opção por inicial minúscula dá-se quando a ideia da oração não está concluída e é retomada pela série de palavras seguinte: «Eu... eu... eu queria um gelado.».