Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual é a regência do verbo esquivar-se? Tenho visto diversas vezes «esquivar-se A qualquer coisa» e outras «esquiva-se DE qualquer coisa». Uma forma está mais correta do que a outra?

Resposta:

O verbo esquivar pode ser regido pelas duas preposições: dea. O uso das diferentes preposições confere ao verbo um sentido diferente. Veja-se os exemplos:

(i) «O João esquivou-se ao trabalho»

(ii) «O João esquivou-se do trânsito»

Em (i) o que se pretende dizer é que o João dispensou ou livrou-se do trabalho, enquanto em (ii) nos referimo ao facto de o João se ter afastado ou desviado do trânsito. Assim, esquivar-se a tem sentido de «eximir-se a, livrar-se de» e esquivar-se de significa «afastar-se de, arredar-se de, desviar-se de» (Tavares, António, Moranguinho, Jorge. Prontuário de verbos com preposições (e locuções prepositivas). Plátano Editora, 2008).

Pergunta:

Alguém me sabe indicar se o verbo «conduzir» se rege apenas pela preposição  «O João conduziu a irmã a casa» –, ou se também se pode reger pela preposição para?

A frase «Esse objetivo tem conduzido o Rui para mais altos destinos» está correta, ou deveria ser «Esse objetivo tem conduzido o Rui a mais altos destinos», modificando, assim a preposição?

Obrigado.

Resposta:

O verbo conduzir, enquanto verbo transitivo com significado de «dirigir e levar, ou acompanhar (alguém ou alguma coisa)»,  pode ser regido pelas seguintes preposições: 

(i) conduzir a – «esta rua conduz à igreja»

(ii) conduzir para – «A má gestão conduz a empresa para a falência». 

Quanto à frase apresentada – «esse objetivo tem conduzido o Rui para/a mais altos destinos»  é correto o uso das duas preposições, sendo que o sentido é o mesmo: levar

Pergunta:

Diz-se que uma pessoa recebeu uma informação «via postal» ou que recebeu uma informação «POR via postal»?

A preposição por deve existir aqui?

Resposta:

O mais correto será a forma «por via postal», à semelhança de «por via aérea». No entanto, a forma «via postal», sem a preposição por, não pode ser considerada errada por ter função adverbial, como no seguinte exemplo: «Administração Eleitoral diz que voto dos emigrantes tem de ser via postal.» Assim, podemos assumir que ambas as formas estão corretas.  

Pergunta:

É correto dizer-se «entre o casal», sendo casal singular?

Resposta:

A preposição entre pode ser empregada com o substantivo casal, apesar de este substantivo estar no singular. Acontece que estamos perante um substantivo com valor dual, ou seja, é relativo a dois, no caso cônjuges. Assim, sendo entendido como pluralidade, à semelhança de par, pode igualmente ser considerando nome coletivo (cf. Carrilho, FernandaDicionário de nomes colectivos. Publicações Europa-América, 2006). Veja-se outro exemplo que entre ocorre com um nome singular que é também coletivo: «A paz instalou-se entre a população.» 

Pergunta:

Na frase «Até meados dos anos 1980, mais de metade de todas as mulheres casadas se uniu à força de trabalho», está correto dizer «mais DE metade»?

O certo não seria «mais DA metade»?

Resposta:

A frase apresentada está correta. Acontece que, antes das chamadas expressões partitivas, colocamos a preposição sem o artigo definido. Veja-se outros exemplos, onde é mais claro a impossibilidade de utilizar a preposição contraída com o artigo definido:

(1) «Mais de um terço das mulheres não votou.»

(2) «Mais de duas centenas de mulheres não votou.»

Assim, à semelhança de (1) e (2), teríamos «[...] mais de metade de todas as mulheres [...]». 

Não obstante a norma referida, há registos da expressão «mais da metade». Acontece que a expressão se tornou corrente, apesar de fugir ao padrão de uso.