Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora
Uma maestrina a quem chamam <i>maestro</i>
A propósito de uma série francesa deficientemente traduzida

Em português, a forma feminina com uso consolidado de maestro é maestrina. Até há uma portuguesa chefe de orquestra – o que ainda desculpa menos quem traduziu e legendou para a RTP 2 a série francesa "Orquestra".

Pergunta:

A expressão «mover mundos e fundos» com o sentido «fazer todos os possíveis» existe?

Resposta:

«Mundos e fundos» é uma expressão convencional e idiomática da língua portuguesa. A ela estão associados verbos que lhe conferem significados diferentes, sendo que o mais comum é «prometer mundos e fundos»: «ele prometeu mundos e fundos», ou seja, fez uma promessa infundada ou exagerada. No entanto, associar à expressão o verbo mover – «mover mundos e fundos» – é totalmente aceite, apesar de não ter um uso tão comum, e confere à expressão o sentido de «fazer todos os possíveis para atingir determinado objetivo». 

Pergunta:

Na frase «As suas respostas ao Inquérito III, realizado recentemente, disseram-nos isso mesmo», o que é «realizado recentemente» gramaticalmente?

Resposta:

Na oração apresentada – «as suas repostas ao Inquérito III, realizado recentemente, disseram-nos isso mesmo» – « [...] realizado recentemente [...]» é um modificador apositivo do nome. Neste caso, a expressão entre vírgulas «é um constituinte por meio do qual se dá uma informação adicional sobre o nome, sendo sempre colocado depois do nome  e entre vírgulas [ou entre uma vírgula e um ponto]» (Gramática de PortuguêsMaria Regina Rocha). Assim, a ausência desta informação não torna a oração agramatical ou incompreensível. 

Pergunta:

O verbo provar, no sentido de «experimentar«, é transitivo direto ou indireto? «Eu provo a comida», ou «da comida»?

Obrigado.

Resposta:

O verbo provar, enquanto «experimentar», pode ser classificado como transitivo direto e transitivo indireto. No primeiro caso, enquanto verbo transitivo direto, seleciona um complemento direto: «Eu provo a comida», sendo que a comida é o complemento direto; no segundo caso, enquanto verbo transitivo indireto, seleciona um complemento oblíquo: «eu provei de toda a comida (que se encontrava na mesa)» ou «eu provei da comida», onde de toda a comida/da comida tem a função de complemento oblíquo que assume a forma de grupo preposicional. Neste último exemplo, estamos perante uma construção também chamada partitiva, marcada pela preposição de contraída com o artigo, no caso, a.

O descrédito da descrença
Uma confusão lexical

Aconteceu num relato da penúltima jornada da I Liga Portuguesa de Futebol, do desafio Chaves-Vitória de Setúbal. Como a derrota de qualquer dos contendor, agravaria o risco da despromoção de divisão, o segundo golo – na descrição do relator do jogo – tinha lançado o descrédito  na equipa mais em risco de descida. Um caso de óbvia confusão lexical.