Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como distinguir o que explicativo e o que causal?

Resposta:

O morfema que assume apenas, do meu ponto de vista, um valor explicativo. A conjunção subordinativa porque é que pode ter um valor explicativo ou um valor causal.

Galán Rodriguez (1999)*, uma das autoras que se têm debruçado sobre esta matéria, apresenta a seguinte distinção: 

– Orações causais puras (A porque B)

Ex.: Faltei à reunião porque estive doente

– Orações causais explicativas (A, porque B)

Ex.: A menina deve estar triste, porque está a chorar. 

Segundo a autora, as orações causais puras apresentam uma relação de causa-efeito entre as duas orações, em que a oração «porque estive doente» dá origem ao estado de coisas descrito na oração «Faltei à reunião”» Estamos, assim, perante a enunciação de uma causa que expressa um facto real. As orações introduzidas pelo porque causal fornecem sempre uma informação nova e podem ser deslocadas para outra posição: «Porque estive doente, faltei à reunião.»

As orações causais explicativas, por sua vez, apresentam um facto B que, no juízo do locutor, pode ser uma explicação razoável ou apropriada do facto A, com base num raciocínio prévio. Assim, nestas orações, não é expressa uma causa, mas, sim, uma dedução do locutor pelo que observa e pelo seu conhecimento do mundo: é normal e habitual alguém estar triste quando chora. As orações introduzidas pelo porque explicativo não podem sofrer qualquer movimento (o asterisco indica agramaticalidade): * «Porque está a chorar, a menina deve estar triste.»

* G...

Pergunta:

Numa conversa informal com um amigo, que me fez a pergunta «Vamos à praia esta tarde?», surgiu-me a seguinte dúvida na simples resposta com o advérbio talvez: estará correto responder «Talvez vamos», mas também estará correto responder «talvez iremos»?

No «talvez vamos», o verbo ir está no presente do conjuntivo (como o tempo normalmente usual a seguir ao advérbio talvez), poderei também empregar o futuro a seguir ao advérbio talvez?

Antecipadamente grata por um esclarecimento.

Resposta:

Não, não é correto o uso do futuro do indicativo com o advérbio talvez; apenas tempos do modo conjuntivo:

a) «Talvez ao teatro, se houver bilhetes.»

b) «Talvez fosse ao teatro, se houvesse bilhetes.»

Pergunta:

Gostaria de saber que função sintáctica deverá ser atribuída a «de amor», na oração «a canção falava de amor».

Antecipadamente grato.

Resposta:

De acordo com a atual terminologia linguística em vigor em Portugal, a expressão preposicional «de amor» desempenha a função de complemento oblíquo.

O complemento oblíquo é um complemento do verbo e, por isso, faz parte do predicado. É um sintagma adverbial (cf. 1) ou preposicional (cf. 2–5) e nunca pode ser substituído pela forma dativa do pronome pessoal (-lhe, -lhes).

1) «O teu amigo mora aqui

2) «A Ana pôs o livro na estante

3) «Ninguém faltou à reunião

4) «O Pedro conversou com a Patrícia

5) «Os alunos foram para casa

Pergunta:

Gostaria que me explicassem o seguinte: o modificador apositivo do nome (ex-aposto ou continuado) faz parte do sujeito? Exemplo:

«O Luís, um ótimo aluno da turma X, adoeceu.»

O sujeito é apenas «O Luís», ou é «O Luís, um ótimo aluno da turma X»?

Do mesmo modo, num complemento direto, por exemplo, na frase «Ele comeu uma maçã podre», qual é o complemento direto: «uma maçã», ou «uma maçã podre»? Isto é: o modificador restritivo do nome (ex-atributo) está incluído no complemento direto, ou não?

Muito obrigado e continuação do ótimo trabalho que têm feito pela língua portuguesa.

Resposta:

Sim, o modificador apositivo do nome é parte constituinte do sujeito.

O grupo nominal sujeito pode incluir grupos adjetivais, preposicionais e frásicos, que desempenham a função de modificadores restritivos ou apositivos.

Para identificar o sujeito de uma frase, podemos verificar se a expressão em causa pode ser substituída por um pronome pessoal nominativo (eu, tu, ele, nós, vós, eles):

1. a) «O professor elogiou os alunos.»

b) «O professor de Matemática elogiou os alunos.»

c) «O dr. Lucas, professor de Matemática, elogiou os alunos.»

d) «O professor mais popular da escola elogiou os alunos.»

e) «O professor que coordenou o projeto elogiou os alunos.»

Em todas as frases de 1, podemos substituir a expressão a negrito, que corresponde ao sujeito da frase, por um pronome pessoal nominativo: «Ele elogiou os alunos.»

O mesmo sucede com o grupo nominal complemento direto, que pode incluir grupos adjetivais, preposicionais e frásicos que o modifiquem.

Para identificar o complemento direto de uma frase, podemos verificar se a expressão em causa pode ser substituída por um pronome pessoal acusativo (-me, -te, -o, -a, -nos, -vos, -os, -as).

2. a) «O treinador elogiou o jogador

Pergunta:

A frase «Vê se vês» está correta? Trata-se de um complexo verbal? É uma frase simples?

Obrigado.

Resposta:

A frase «Vê se vês» é uma frase complexa, porque contém uma oração completiva verbal (interrogativa indireta) introduzida pela conjunção integrante se: «se vês». Vejamos outros exemplos de orações afins:

a) «Descobre se sou eu quem tem o rei de copas.»

b) «O João perguntou se eu ia à reunião.»

c) «Não sei se posso ir.»

Eis alguns exemplos de frases simples que contêm complexos verbais, formados por um (ou mais) verbo(s) auxiliar(es) juntamente com um verbo principal:

d) «Vou comprar os bilhetes hoje.»

e) «Devo poder sair mais cedo.»

f) «A Rita anda a estudar piano.»