Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «Ele dedica-se (entrega-se) ao trabalho», «ao trabalho» é complemento indireto, ou complemento oblíquo? Porquê?

Resposta:

Na frase «ele dedica-se ao trabalho», o sintagma preposicional «ao trabalho» é complemento indireto, porque é substituível pela forma dativa do pronome pessoal (lhe)1:

(a) «Ele dedica-se-lhe

À semelhança do que acontece nas estruturas em que o verbo dedicar é acompanhado de um grupo nominal complemento direto:

(b) «Ele dedica o livro ao avô.»

(c) «Ele dedica-lhe o livro.»

Esta análise é também confirmada por Celso Pedro Luft (Dicionário Prático de Regência Verbal, São Paulo Editora Ática, 2003): «TDpI [= transitivo direto pronominal e indireto]: dedicar-se a... Devotar-se a; sacrificar-se; dar-se: Dedicar-se a uma pessoa.// Aplicar-se; entregar-se; consagrar-se: O mestre se dedica à educação da juventude. dedicar-se a uma causa, profissão, etc.» No Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses (Lisboa, Texto Editora, 2007, coordenado por J. Malaca Casteleiro), também o complemento preposicionado por a pode referir-se quer a coisas ou abstrações quer a pessoas: «Pron[ominal] [GNsuj V -se GP (a) [C.indir.]] <entregar-se> Desde os cinco anos que ele se dedica à música. O pai sempre se dedicara pouco à família.»

Pergunta:

Bem, uma oração tem tirado meu sono!

Vamos à oração:

1) «Vai demorar um pouco para mim ser profissional», ou «Vai demorar um pouco para eu ser profissional»?

2) «Vai demorar que eu seja profissional» é equivalente à última?

3) Na oração 1 o verbo é impessoal?

4) A regência culta pede preposição a? O para é incorreto?

Resposta:

Respondo a cada questão pela ordem apresentada:

1) A única estrutura correta é «Vai demorar um pouco para eu ser profissional». O sujeito da oração infinitiva «para eu ser profissional» deve ter o caso nominativo, pelo que só é legítimo o uso do pronome pessoal eu.

2) Uma frase equivalente à anterior seria: «Vai demorar para que eu seja profissional.»

3) Não, o sujeito do predicado «vai demorar» é toda a oração completiva «para eu ser profissional»: «Isso vai demorar.»

4) O uso de para é correto.

Disponha sempre! 

N. E. (3/2/2017) – O verbo demorar pode selecionar uma oração de infinitivo, facultativamente introduzido pela preposição a, se o verbo ocorrer na 3.ª pessoa do singular: «Demorou (a) ser profissional». Se o verbo aparece noutras pessoas verbais, é obrigatória a preposição: «Demorei/demorámos a ser profissional/profissionais.» Também é possível a preposição para, uso que tende a ser identificado com o português do Brasil, mas que surge igualmente no português de Portugal. Ambas as preposições estão corretas.

Pergunta:

Nas expressões «a complexidade do assunto» e «a beleza de ser humano», qual a classificação sintática dos termos destacados?

Obrigado.

Resposta:

As expressões «do assunto» e «de ser humano» desempenham a função sintática de complemento nominal.

O sintagma preposicional «do assunto» é complemento do nome «complexidade», e o sintagma preposicional «de ser humano» é complemento do nome «beleza».

Se não houver um contexto sintático, esses nomes não são por si só interpretáveis: complexidade de quê ou de quem? Beleza de quê ou de quem? Precisam, portanto, de um complemento que lhes confira um significado linguístico.

Pergunta:

Utilizar o possessivo depois do nome num contexto que não é exclamativo, por exemplo, «não durmo na casa minha»: está totalmente errado, ou pode-se usar, apesar de pouco usual?

Resposta:

Não se considera correta a posição do possessivo na frase apresentada, aceitando-se apenas a estrutura: «não durmo na minha casa».

O uso do possessivo em posição pós-nominal só é legítimo quando temos um valor mais genérico:

(a) «Filho meu nunca dormiria fora de casa sem me avisar.»

(b) «Que amigos teus convidaste para a festa?»

Pergunta:

Quais são as diferenças entre «no caso de» e «em caso de»?

Resposta:

«Em caso de» tem um valor semântico mais genérico e usa-se normalmente com nomes:

1. «Em caso de incêndio, não use o elevador.»

2. «Ligue para o 112, em caso de emergência.»

«No caso de» tem um valor semântico mais específico e usa-se normalmente com orações infinitivas:

3. «No caso de te enganares, usa este corretor.»

4. «Leva alguns medicamentos para a viagem, no caso de ficares doente.»