Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «o tomate faz bem à saúde», o advérbio bem terá a função de complemento oblíquo – o verbo é transitivo. Porém, na frase «sinto-me bem ao comer salada de tomate», o advérbio terá a função de predicativo do sujeito, já que se trata de um verbo copulativo. Estou a pensar certo?

Obrigado.

Resposta:

O verbo fazer, à semelhança de outros verbos, pode ocorrer em diferentes estruturas sintáticas:

– Verbo transitivo direto:

a) «A cozinheira fez uma tarte

– Verbo transitivo direto e indireto

b) «O menino fez mal ao colega» (mal = malefício, dano).

c) «O tomate faz bem à saúde» (bem = benefício).

Nos contextos b) e c), mal e bem são nomes, logo, núcleo de grupos nominais, pelo que desempenham a função de complemento direto.

Em relação à frase «Sinto-me bem...», a palavra «bem» é um advérbio e desempenha a função de predicativo do sujeito.

Disponha sempre!

 

Pergunta:

Na frase «ele nasceu em 1952», o sintagma preposicional («em 1952») deverá ser considerado complemento oblíquo, ou modificador do grupo verbal?

Resposta:

O verbo nascer é um verbo intransitivo, ou seja, não seleciona qualquer complemento, pelo que a expressão preposicional com valor temporal «em 1952» deverá ser considerada um modificador verbal. A sua omissão não gera agramaticalidade na frase: «Ele nasceu.»

Eis alguns exemplos de verbos que partilham as mesmas propriedades do verbo nascer:

(a) «As flores murcharam.»

(b) «A semente cresceu.»

(c) «A bailarina desmaiou.»

(d) «O gatinho adoeceu.»

(e) «Ele morreu.»

Pergunta:

Tenho ouvido a palavra "fabulástico", mas não a encontro nos dicionários. É correta a sua utilização?

Obrigada.

Resposta:

A forma «fabulástico» resulta de uma amálgama entre os adjetivos fabuloso e fantástico. Este é um processo muito produtivo na língua, por exemplo: informática = informação + automática; motel = motor + hotel; telemóvel = telefone + móvel). Contudo, o uso de "fabulástico" limita-se ao registo informal. Apesar de conseguirmos atribuir-lhe uma classe gramatical – adjetivo – e também um significado, essa unidade não está atestada nos nossos dicionários.

Assim, desaconselha-se o seu uso em contexto formal de comunicação.

 

Pergunta:

Na frase «O Rui veio com a irmã de autocarro», estamos na presença de dois complementos oblíquos?

Resposta:

O verbo vir rege um complemento preposicional com o valor semântico de origem (lugar de onde):

(1)  «O Rui veio da faculdade.»

Na ausência deste complemento, pode considerar-se que o meio de transporte o poderá substituir. Assim, na frase apresentada, estamos perante um complemento oblíquo apenas, desempenhado pela expressão «de autocarro».

O grupo preposicional «com a irmã», não sendo selecionado pelo verbo vir, é considerado um modificador.

Precariedade... <br> por mais que haja quem a ponha em causa
À volta do barbarismo “precaridade”

«Baseado nas fontes por mim adoptadas (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, no S.O.S. Língua Portuguesa, da autoria de Sandra Duarte Tavares e de Sara de Almeida Leite escreveu o provedor do jornal “Público”, na edição do dia 24/08 –, malogrei na convicção de que a forma correcta era “precariedade”. Afinal, as duas formas são admitidas.»