Rui Gouveia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rui Gouveia
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Rui Gouveia é revisor de imprensa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Queria saber sobre o uso do zero antes dos números nas datas. Segundo o Manual de Redação e estilo de O Estado de São Paulo não deve ser colocado. Sempre me oriento por ele, mas agora estou em dúvida, pois vários lugares não estão utilizando, mas os livros específicos usam. Estou em dúvida.

Resposta:

Posso dizer-lhe que no jornal onde trabalho também não se usa esse zero. O seu emprego faz sentido apenas no preenchimento de formulários que reservam um espaço prevendo a possibilidade de o dia e/ou de o mês serem grafados com dois dígitos, como é o caso de todos os superiores a 9. No caso de o dia ou de o mês serem inferiores a 10, costuma-se preencher com um zero o primeiro desses dois campos. Em texto corrido, não faz sentido escrever «Choveu no dia 01 de Janeiro».

Pergunta:

Pesquisando as diferenças existentes entre esses três verbos – mesmo sabendo que, na vida cotidiana, elas pouco importam –, cheguei às seguintes conclusões, que submeto a vossa apreciação:
Usar significa pôr em uso, empregar, aplicar. Não importa como nem para quê. Trata-se, pois, de um verbo de grande amplitude, genérico, vago. Em última análise, diz-se que algo é usado quando seu estado é modificado por obra de algum sujeito. Exemplo: um graveto está sobre o solo, onde caiu naturalmente após secar e se desprender de uma árvore, até que alguém se aproxima e o pega para alimentar uma fogueira; no momento em que é apreendido pelo sujeito, o graveto já está sendo usado, pois deixou de estar ao natural como até então se encontrava.
Utilizar significa tornar útil. Sabemos que o sufixo -izar carrega a idéia de tornar, converter (agilizar = tornar ágil; atualizar = tornar atual etc.). Assim sendo, para que certo objeto seja utilizado, pressupõe-se que ele ainda não seja útil – pois nada pode se tornar aquilo que já é. No exemplo dado acima, pode-se dizer que o graveto foi utilizado a partir do momento em que foi atirado na fogueira para queima. Antes disso, tratava-se de uma coisa meramente exposta ao acaso, sem utilidade nenhuma.
A utilização pressupõe um ato do sujeito que mobiliza o objeto a uma certa utilidade, ainda que esta não seja inerente à natureza específica dele – no exemplo, o graveto não é coisa predisposta naturalmente à queima, mas sim à decomposição orgânica.
Utilizar-se é tirar proveito, servir-se. Mas não qualquer proveito: apenas aquele ao qual o objeto se destina por natureza. Cite-se como exemplo o telefone: sua finalidade natural é a de servir de instrumento de comunicação vocal. Assim, uma pessoa se utiliza do telefone logo que passa a aplicá-lo na comunicação vocal.
É isso?
Muito obrigado.

Resposta:

Muito melhor que construir teorias acerca do lógico significado de uma palavra é consultar uma mão-cheia de dicionários (para não ficarmos dependentes de apenas uma opinião) e verificar que valores pode assumir essa mesma palavra, pois são todas essas acepções aí descritas que os falantes podem esperar quando topam com ela. Para facilitar, tomemos como exemplo uma obra brasileira de referência, e uma portuguesa.

Diz o Dicionário Houaiss:
Usar: «1 (t. d. e t. i.) ter por hábito, costume ou empregar habitualmente; costumar. 2 (t. d. e t. i.) servir-se de (como meio ou instrumento) visando a (determinado fim); manipular, lançar mão de. 3 (t. d.) auferir proveito ou vantagem de; servir-se, utilizar. 4 (t. i.) p. us. tratar (alguém de determinada maneira); agir, proceder socialmente com, portar-se. 5 (t. d. e t. i.) lançar mão de; empregar. 6 (bit.) empregar (algo) de forma útil, ou não, em. 7 (t. d. e t. i.) pôr (algo) em acção ou a serviço, esp. para atingir um fim; empregar, servir-se de. 8 (t. d. e t. i.) empregar como fonte de energia; consumir, gastar. 9 (t. d. e t. i.) consumir ou tomar regularmente (bebidas alcoólicas, drogas, certos alimentos etc.). 10 (t. d.) expor-se à vista de (determinada maneira); apresentar-se habitualmente. 11 (t. d. e t. i.) trazer vestido ou sobre si (peça de roupa, indumentária etc.). 12 (t. d. e pron.) desgastar(-se) pelo emprego diário ou longa utilização; gastar(-se). 13 (t. d. e t. i.) levar ao fim, despendendo; gastar.»

Utilizar: «1 (t. d. bit.) lançar mão de, fazer uso de; usar, empregar, aplicar. 2 (bit.) empregar (algo) em ou para ...

Pergunta:

Preciso para um trabalho escolar de saber a origem do nome António.

Onde poderei procurar na Internet?

Resposta:

António, «talvez o nome mais popular da antroponímia portuguesa, permanece de origem obscura, se bem que alguns lhe encontrem etimologia etrusca que deu em latim ‘antonius’, “inestimável”, ou etimologia grega, ‘anthonomos’, “que se alimenta de flores”. É certo que existia já em Roma, designando uma “gens” famosa da qual o mais conhecido é Marco António». Isto é o que nos diz Orlando Neves no seu Dicionário de Nomes Próprios, editado pelo Círculo de Leitores.

Pergunta:

Escreve-se 2500, 2 500 ou 2.500 pessoas?

Obrigada.

Resposta:

Os chamados números muito grandes1 dividem-se em grupos de três algarismos, separados por um espaço, e não por qualquer pontuação. Ex.: «Assistiram ao jogo 109 456 espectadores.»

Esqueça o ponto (que se usa nos países anglófonos, por exemplo); a única pontuação que se pode empregar na numeração é a vírgula, para separar a parte inteira da parte decimal. Ex.: «Ele tem 1,97 m de altura.»

Os citados grupos de três algarismos contam-se a partir das unidades, tanto para a esquerda como para a direita da vírgula: 78 890,322 14.

Exceptuam-se os casos em que a parte inteira ou a parte decimal é constituída por apenas quatro algarismos, situação em que não se usa espaço. É por essa razão que vemos «Euro 2004» e «25 de Abril de 1974», a mesma que invocamos para que escreva «2500 pessoas»2.

 

números

1 Para os chamados pequenos números, não havendo regra estabelecida, na imprensa escrita segue-se a recomendação da grafia por extenso do números até dez; e, a partir de dez, em numeral. Razão: a maior facilidade de leitura dos números grandes em algarismos.

2 Assim o prescreve a Norma Portuguesa n.º 9 (escrita dos números),...

Pergunta:

Estou numa grande briga com um amigo, porque num dicionário explica uma coisa, no outro não existe, e em outros a explicação não é a mesma... Bom, em suma, desparecer significa para mim desaparecer, e para ele significa contrário de desaparecer, ele afirma que isso está no Dicionário Prático ilustrado, vol.1 (Lello & Irmão Editores), sendo que no meu dicionário brasileiro zero hora não existe a palavra e no ‘site’ o resultado é apenas desaparecer... Eu só quero a explicação porque ele me escreveu «estou desparecendo horrores» e eu corrigi, disse a ele que era «eu estou espairecendo horrores», quem está certo, o que realmente significam estas palavras? Existe mesmo a colocação desparecer? Porque nem todos os dicionários explicam igual??? Não deveria ser tudo a mesma coisa???

Resposta:

Bom, aqui segue a definição de desparecer de acordo com algumas obras consultadas:

«Deixar de estar visível, de estar à mostra; desaparecer, sumir», cf. Dicionário Houaiss.
«Verbo intransitivo pouco usado [=] desaparecer», cf. Dicionário Aurélio Século XXI.
«O mesmo que desaparecer», Dicionário Michaellis.
«Desaparecer. "Brilhou, desparece, não deixa vestígio" (Castilho, "Outono")», cf. Dicionário Caldas Aulete.
«Deixar de parecer ou aparecer. O mesmo que desaparecer», cf. Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado (ed. Sociedade da Língua Portuguesa, 1960).
«O mesmo que desaparecer», cf. Dicionário Morais.
«Desaparecer», cf. Dicionário Enciclopédico Verbo.
«Desaparecer», cf. Dicionário da Porto Editora.
«Desaparecer», cf. Dicionário da Texto Editora.
«O mesmo que desaparecer», cf. Novo Dicionário Lello da Língua Portuguesa.

São, praticamente, os mais considerados dicionários de língua portuguesa, tanto brasileiros como portugueses, convergindo no mesmo, pelo que houve lapso do dicionário do amigo da consulente (também acontecem).