Rui Gouveia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rui Gouveia
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Rui Gouveia é revisor de imprensa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Agradecia informação acerca da correcta grafia das palavras: "tele-acção" ou "teleacção", "telesinalização" ou "telessinalização", "sobre-intensidade" ou "sobreintensidade" (muito vista em catálogos)?

Resposta:

O elemento de formação de palavras tele- (Do gr. "tële", «longe»), que exprime a ideia de «longe, ao longe, à distância», aglutina-se sempre ao elemento seguinte: teleacção (parece que telacção também será possível, à semelhança de telangiectasia; mas o Dicionário Aurélio regista: teleator/teleatriz; e o Houaiss regista telealuno); telautógrafo, telespectador, teleimpressor, teleobjectiva, telerradiografia, telessinalização, etc.

O prefixo sobre-, que exprime a ideia de «posição superior, por cima», é seguido de hífen apenas quando o segundo elemento começa por h. Assim, temos: sobre-humano, sobreaquecimento, sobreendividamento, sobreintensidade, sobreolhar, sobreumeral, sobrerrestar, sobressair, etc.1

1 Com a adopção do Acordo Ortográfico de 1990, tele- e

Pergunta:

Qual a origem do nome Odivelas?

Resposta:

A este respeito, citamos o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, que diz o seguinte na entrada Odivelas: «topónimo. Ferreira do Alentejo, Loures; ribeiro afluente do Sado. Sabe-se que o árabe uad, vulgar od- (“rio”) se torna Ode- em português quando a seguir se lhe junta vocábulo começado por consoante (Odesseixe, Odeleite, Odemira), mas é Odi quando antecede palavra iniciada por vogal (Odiana, Odiel). Isto serve, como creio, para inutilizar a hipótese de Joaquim da Silveira (“Revista Lusitana”, 33.º, p. 238) que tira do árabe uadi belaa, “rio da olá ou do remoinho”, com influência de topónimos próximos como Belas, Bucelas, Chelas, etc. Para mais, o segundo daqueles vocábulos arábicos tem acentuação diversa da julgada pelo ilustre investigador: é balla’a, com acento no segundo a, que no árabe vulgar da Hispânia passava a -é- ou -í-. E havia remoinho(s) no rio? Parece-me que a segunda parte do vocábulo Odivelas continua obscura. Talvez do pré-romano *belis, “negro, escuro”, “corvo”.»

Pergunta:

Gostava de saber se o termo "eminentemente" tem o sentido de "principalmente".

Resposta:

Eminentemente é um advérbio que significa «no mais alto grau; muito; sobremaneira». Significando principalmente «especialmente; sobretudo», é muito possível que haja contextos em que ambos os termos se equivalham.

Pergunta:

Qual a forma correcta de se dizer: “estamos na época pascal” ou “estamos na época pascoal”?

Muito agradecido.

Resposta:

Nas frases que apresenta, é indiferente: pascal e pascoal são sinónimos. Ambos querem dizer «da Páscoa ou referente a ela». O facto de estarmos habituados a ouvir uma forma em nada invalida o emprego de uma outra que lhe seja sinónima. Na verdade, e de acordo com José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, será mesmo o termo pascoal a estar mais próximo da origem latina, presumindo que pascal seja sua variante.

As situações em que não é indiferente escolher um termo ou o outro são aquelas em que pascal significa, em física, «unidade de pressão no sistema internacional, equivalente a dez bárias», ou, em informática, «linguagem de alto nível criada especialmente para o ensino da programação, sendo também adequada para aplicações comerciais», ou, ainda, quando é um adjectivo «referente a pasto», conforme nos diz, por exemplo, o Dicionário da Porto Editora.

Pergunta:

Gostaria de saber se se deve continuar a grafar em itálico os estrangeirismos, agora constantes do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.
Muito obrigado.

Resposta:

Os estrangeirismos na sua forma pura, original, devem continuar a ser grafados em itálico ou entre aspas. Quando aportuguesados ou semiaportuguesados, e só desta maneira é legítimo o seu uso (sempre o mais restrito possível) na nossa língua, não necessitam das aspas ou do itálico (correspondente ao sublinhado nos manuscritos), visto se estarem, bem ou mal, a considerar como fazendo parte do português.