Rúben Correia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rúben Correia
Rúben Correia
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Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa - Português Língua Estrangeira/Língua Segunda na referida. Prepara atualmente um doutoramento na mesma área.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual a origem do nome Orvidia? Sendo que já o vi grafado com e sem acento no primeiro i, qual a sua grafia correcta?

Resposta:

Não foi possível verificar a origem do nome Orvidia/Orvídia nas fontes consultadas. Mesmo num motor de pesquisa na Internet, os resultados tanto para esta forma como para a forma masculina (Orvidio/Orvídio) são escassos. Contudo, os resultados obtidos demonstram que o nome efetivamente existe no Brasil, grafado com acento agudo no i: Orvídio.

No entanto, regista-se, e passamos a transcrever, a origem dos nomes Ovídia e Ovídio, do Dicionário de nomes próprios, de Orlando Neves: «Do latim ovidius, “ovelha”. De Santo Ovídio, cidadão romano, diz-se que foi o terceiro bispo de Braga a avaliar pelo que se lê à entrada da sé da cidade, num monumento datado de 1505: «relíquias [ossos] do bispo Audito [Ovídio]». A historicidade deste bispo é, porém, controversa». Uma personalidade marcante das letras latinas respondia igualmente pelo nome Ovídio (43 a. C.-17 d. C.), autor, entre outros, da Arte de amar e das Metamorfoses.

Pergunta:

Quando pronunciamos palavras como probabilidade, responsabilidade ou possibilidade, é comum abreviar e pronunciar "probablidade", "responsablidade" ou "possiblidade".

Devemos continuar a «dobrar a língua» e dizer como escrevemos, ou é aceitável abreviar?

Resposta:

No padrão do português europeu, é inevitável "abreviar" essa vogal na oralidade, mesmo em situações formais. Em relação a esta variedade, quando na grafia se representam duas sílabas cujo núcleo é i, o primeiro deles é pronunciado como o e de degrau ou demasiado (o tradicionalmente chamado e mudo; símbolo fonético [ɨ])1, num processo denominado dissimilação. Sendo assim, numa pronúncia mais tensa ou pausada as palavras em discussão soam como "probabelidade", "responsabelidade" ou "possibelidade". Acontece que este som [ɨ], que só ocorre em sílabas átonas, tende a desaparecer (síncope) quando se imprime maior velocidade à expressão, com o resultado de tais vocábulos acabarem por serem produzidos como "probablidade", "responsablidade" ou "possiblidade", mesmo em situações formais2. Trata-se, portanto, de um fenómeno que se regista na oralidade (nunca se projeta na escrita) e que, dadas as propriedades acústicas do e mudo, é praticamente impossível controlar, a não ser que se retire naturalidade ao discurso.

Noutros dialetos do português europeu (por exemplo, em certos falares setentrionais) ou do português em geral, a vogal é sempre [i] na posição já descrita. Deste modo, mantém-se a correspondência regular entre grafia e fonia: probab[i]lidade; responsab[i]lidade; possib[i]ilidade. Não fazendo parte da norma-padrão, estas pronúncias são, no entanto, aceitáveis.

1Nos est...

Pergunta:

No Código de Redação Interinstitucional da UE, mais precisamente no anexo da lista dos estados e territórios, apresentam-se para o respectivo país as designações Moldávia e «República da Moldávia». Mas existe também uma nota que diz: «República da Moldova para efeitos protocolares».

Afinal, como se deve dizer/escrever em português? Moldávia, ou Moldova?

Obrigado.

Resposta:

Como se pode ler no Código de Redação Interinstitucional da União Europeia, usa-se «República da Moldova» em documentos oficiais para designar o país que emergiu no seguimento da queda da antiga União Soviética em 1991. O termo Moldávia, ainda que não seja incorreto, tem a desvantagem de ser ambíguo, pois refere-se à região geográfica e histórica que, atualmente, engloba territórios pertencentes tanto à República da Moldova como à Roménia e ainda à Ucrânia.

 

Cf. Moldova

 

N. E. (06/03/2022) – O país em apreço continua a ser denominado de três maneiras no Código de Redação da língua portuguesa nas instituições europeias (consultado na data desta nota): Moldávia é o nome comum; República da Moldávia é o nome oficial; e República da Moldova é a forma usada para efeitos protocolares, conforme se observa em nota no referido documento em linha. Esta última denominação surge no âmbito da diplomacia e é a que consta da página da Embaixada deste país em Lisboa, a qual se denomina Embaixada da República da Moldova na República Portuguesa e no Reino de Marrocos. No Brasil, também figura a denominação República da Moldova na lista das representações estrangeiras que é mantida pelo

Pergunta:

1 – É correcto usar o termo demanda no sentido de «procura» («a demanda de hotéis»)?

2 – É correcto usar o termo renda no sentido de «rendimento» («a renda familiar»)?

3 – É correcto usar o terno atende («a escola atende 300 alunos»)?

4 – É correcto usar a expressão «quadra desportiva» no sentido de «recinto desportivo»?

Resposta:

1. O uso de demanda na frase que refere encontra reservas, porque nesse contexto a palavra mais tradicional é procura: «a procura de hotéis». Acerca deste uso, Agenor Soares dos Santos (Dicionário de Anglicismos e de Palavras Inglesas Correntes em Português, Elsevier/Editora Campus, 2006) refere que, no domínio da economia, «demanda – do inglês demand – [é] usado, especialmente na imprensa, em vez de “procura”, em “(lei da) oferta e da procura” (supply and demand)», acrescentando que «esse significado já existia desde o século XIII em Portugal (“A demanda do Santo Graal”), o que tornaria fácil o caminho para sua volta». No entanto, o autor conclui que «no sentido de “exigência”, muito corrente em inglês, aparece em más traduções [traduções vertidas do inglês para a língua portuguesa] e não é empregado».

2. A versão eletrónica do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa apresenta a seguinte aceção de rendimento, enquanto termo jurídico: «receita, renda, importâncias recebidas por uma pessoa». No entanto, note-se que, na linguagem coloquial, não nos parece frequente empregar renda no exemplo que o consulente refere, mas, sim, rendimento, ou seja, a «quantidade de valor produzido». Renda, na variante europeia do português, é geralmente utilizada como «quantia que o inquilino de uma casa ou o rendeiro de uma terra pagam periodicamente ao proprietário» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa).

3. Não parece correto o uso do verbo atender no verbo que apresenta. Atender é geralmente usado com o sentido de «dar atenção a/estar disponível para ouvir, prestar esclarecimento». Por exemplo «o empregado atendeu os clientes», «a funcionári...

Pergunta:

Já encontrei a palavra filómato em vários livros, mas não encontro, em lado nenhum, o seu significado.

Resposta:

Pese embora a palavra filómato não se encontrar dicionarizada, ao contrário do substantivo filomatia e do adjetivo biforme filomático, a sua formação parece-nos válida, dado estarmos perante um termo composto erudito cuja formação é aceite pelas normas morfológicas da língua portuguesa (filo-, do grego phílos, «amigo, querido», e –mato, do grego máthesis, «ação de aprender, conhecimento, instrução»). Tudo somado, um filómato seria «aquele que é amigo da aprendizagem, ou que gosta de aprender». Registe-se ainda que em francês existe o substantivo philomate. Assim, podemos especular que o seu aparecimento na língua portuguesa se possa dever a uma adaptação do francês, ainda que nos faltem dados para confirmar tal hipótese.