Pergunta:
Primeiramente, parabéns pelo excelente site que já me ajudou em inúmeras dúvidas. Não obstante, não consegui ainda achar uma solução para o seguinte:
Em formas verbais terminadas em r, s ou z, têm-se:
fá-lo-ia (faria isso)
qui-lo (quis isso)
etc.
Porém, quando se adiciona -se, o complemento do objeto direto -lo se distancia do verbo, o que retira o motivo pelo qual a partícula r, s ou z, é omitida.
A mesóclise faz-se-lo é, portanto, correta? O -lo deve continuar referenciando a forma verbal, mesmo estando distanciado da mesma?
Resposta:
A mesóclise, isto é, a colocação dos pronomes átonos no meio do verbo, só é possível com formas do futuro ou do condicional (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 310; Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 865): ex.: «Os serviços avisá-la-ão da data da prova.» «Se me fizesse essa pergunta, recusar-me-ia a responder.»
Assim, não será viável, na língua portuguesa, uma construção do tipo da sugerida pelo estimado consulente: «*faz-se-lo» (o asterisco indica a agramaticalidade do enunciado).
Julgo que valerá ainda a pena referir que Mateus e outros (em gramática já citada, pp. 865-866) notam que a mesóclise é um caso de «sobrevivência da gramática antiga», sendo que «dados de aquisição, produções de falantes de variedades populares e, em geral, de gerações mais novas revelam que a ênclise [colocação do pronome átono depois o verbo] está a invadir os contextos de mesóclise: ?Telefonarei-te mais vezes. (12 anos, 6.º ano de escolaridade, modo escrito)? Na conjuntura socioeconómica, poderá-se verificar um saldo bastante positivo (prova específica de acesso ao ensino superior, modo escrito)».