Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o recurso estilístico presente em «o uivo do vento abafava as ordens»?

Resposta:

No excerto proposto, é de valorizar a existência de dois recursos estilísticos:

1) A aliteração, que consiste genericamente na repetição da mesma consoante – muitas vezes na sílaba inicial – de palavras próximas, com o intuito essencial de contribuir para a musicalidade e para o ritmo do texto, gerando-se simultaneamente efeitos de harmonia imitativa. Por exemplo, na frase em análise, a repetição exaustiva da consoante [v] contribui claramente para «transportar» para o texto o som natural do vento;

2) Uma forma possível de animismo – atribuição a seres inanimados, a coisas ou a entes abstractos de características próprias de animais. Neste caso concreto, é atribuído ao vento um traço caracterizador dos lobos – o uivo –, com o objectivo de «mostrar» ao leitor a intensidade do som provocado pelo vento.

Pergunta:

Gostaria de saber se posso usar a expressão «às escusas de» como sinônimo de «às escondidas»; exemplo: «A mulher saía às escusas [às escondidas] do marido.»

Resposta:

De facto, o adjectivo masculino escuso pode, entre outras coisas, significar «escondido». Ex.: «financiamentos escusos de campanhas eleitorais.»

No entanto, «às escondidas» é uma locução adverbial com significado próprio (inspirada no jogo infantil em que os participantes se escondem, com excepção de um, que procura descobrir os outros), e que significa justamente «sem ninguém ver». Deste modo, e neste contexto específico, «às escusas» é uma expressão inexistente na língua portuguesa.