Nuno Carvalho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Nuno Carvalho
Nuno Carvalho
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Investigador do ILTEC; foi leitor de Português na Universidade de Oxford (2001-2003).

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Encontrei na Internet um sítio interessante mas onde constava a seguinte expressão: «fábricas populavam por todo o bairro oriental da cidade.»

Gostaria de saber se existe o termo "populavam", que nunca me lembro de ter ouvido.

Resposta:

"Populavam" não existe, de facto. Existe o verbo pulular (e, consequentemente, a forma de terceira pessoa do plural do pretérito imperfeito do indicativo, pululavam), que, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa «multiplicar-se rápida e abundantemente, espalhando-se profusamente». Parece-me, por isso, ser este o verbo adequado para a frase em questão.

Pergunta:

Que quer dizer a expressão «verdugo diário» na frase «Vázquez é o verdugo diário da nossa língua»?

Obrigado.

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verdugo é o «indivíduo responsável pela execução da pena de morte». Pode também querer dizer pessoa «que inflige maus-tratos a alguém». Diário, por sua vez, é um adjectivo que quer dizer «que se faz, que acontece todos os dias». Assim, «verdugo diário» é usado na frase que o consulente apresenta com o significado de pessoa que maltrata a língua todos os dias, possivelmente por falar ou escrever com incorrecções.

Pergunta:

Verifico que alguns dicionários editados no Brasil registam as palavras surfar, surfista e surfe.

A minha pergunta é: como se pronunciam estas palavras no Brasil?

Muito obrigado pela vossa atenção.

Resposta:

As palavras surfe, surfista e surfar pronunciam-se no Brasil com o som -u.

 

N.E. –  (15/12/2016) Surfe, surfista e surfar são as formas aportuguesadas recomendadas, com origem no anglicismo surf – tal como vem abonado nos mais recentes vocabulários, portugueses e brasileiros. Por exemplo, no Vocabulário Ortográfico do Português, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e na Infopédia, entre outros.

Pergunta:

Em África existem três países que se chamam Guiné. Se no mesmo texto quisermos distinguir os naturais de cada um desses países, como é que é o gentílico para cada um deles? "Guinéu-equatoriano" e "guinéu-conacriano"? "Bissau-guineense" e "conacro-guineense"? Ou outra coisa do género? Obs.: a página da Mordebe não é elucidativa no que diz respeito à distinção entre um natural da Guiné-Bissau e um da Guiné-Conacri.

Obrigado.

Resposta:

Na verdade não há instrumentos muito elucidativos a este respeito. Consultando os dicionários de português europeu, verifica-se que o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora e o Dicionário Verbo da Língua Portuguesa dão guineense e guinéu como gentílicos possíveis para as três Guinés.

O Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora tem duas entradas mais específicas. Regista as palavras guinéu-equatoriano como «natural ou habitante da Guiné Equatorial», pelo que parece o termo de uso mais pacífico, e guineano como «natural ou habitante da Guiné». É de supor que se trata da Guiné-Conacri, pois este nem sempre aparece escrito na sua forma plena. Aliás, logo a seguir, o mesmo dicionário tem a seguinte definição para guineense — «1 pessoa natural da Guiné; 2 pessoa natural da Guiné-Bissau; pessoa natural da Guiné Equatorial» —, pelo que se depreende que, quando usa apenas Guiné, se refere à Guiné-Conacri.

 

N. E. (15/07/2016) –Código de Redação Interinstitucional para o uso do português na União Europeu regista equato-guineense, que é aplicável aos dois géneros e s...

Pergunta:

Qual é o papel da gramática normativa na sedimentação de uma língua?

Resposta:

A gramática normativa estabelece o conjunto de regras para se escrever e falar correctamente uma língua. O papel da gramática normativa na sedimentação da língua advém do facto de ter uma função prescritiva, funcionando como um instrumento que regula o bom uso da língua e que define a forma como a língua deveria usada (e não como realmente é); de distanciar-se, assim, da realidade dos usos, sendo pouco permeável às variações e mudanças linguísticas; e de ser a gramática ensinada nas escolas e divulgada como a forma correcta de falar e escrever.