Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Tendo lido a dúvida sobre a palavra pneu, que na minha terra se pronuncia peneu, gostaria de saber quantas sílabas existem na palavra pneu.

Obrigado!

Resposta:

Existe só uma sílaba, caro consulente. Graficamente, trata-se só de uma sílaba e, quanto à pronúncia, a da norma é a de não desfazer o grupo "pn". A referência à existência da vogal epentética diz respeito apenas à realização oral, coloquial, em determinadas regiões.

Este grupo consonântico é ortograficamente indivisível na translineação, quer em início de palavra, quer no seu interior. Na análise gramatical, trata-se apenas de uma sílaba.

Pergunta:

Sou tradutora em Inglaterra. Estou a traduzir uma revista para crianças e tenho a seguinte dúvida: os nomes originais dos dinossauros, tais como apatosaurus, comsognathus, archaleon, etc., traduzem-se para a língua portuguesa, ou em Portugal usam-se os nomes originais?

Obrigada pela resposta.

Resposta:

Depende do tipo de texto que pretende traduzir ou escrever. Se se tratar de um texto em que descreve estas espécies, texto não ficcional, deverá usar os nomes originais, segundo as normas científicas, mesmo que o texto seja para crianças. Repare se, no texto inglês que pretende traduzir, aparece a designação da taxinomia. Se aparecer, deverá mantê-la: apatosaurus, archelon, archaeopteryx, compsognathus, etc.

No caso de se tratar de uma história infantil cujas personagens sejam dinossauros ou de texto genérico, sem preocupações de natureza científica, deverá fazer a tradução: apatossauro, arquélon, arqueópterix, compsógnato, etc.

Pergunta:

Sou Maria Aparecida. Faço o curso de especialização em Língua Portuguesa. Vocês poderiam me auxiliar no seguinte tema:

A influência da oralidade na produção de texto escrito.

Resposta:

A oralidade pode influir na produção do texto escrito de diversas formas. Alguns aspectos: 1 – Se no texto escrito forem utilizadas construções orais sem a referência ao contexto e a elementos informadores próprios do oral, como a entoação, as pausas, os acentos de intensidade, os gestos, etc., a clareza do texto escrito pode ficar comprometida. 2 – Deste primeiro aspecto decorre que a utilização de construções orais no texto escrito exige ser acompanhada de pontuação adequada, frases intercaladas, explicações, descrições. 3 – Com os segmentos orais, emergem no texto escrito as marcas da 1.ª e 2.ª pessoa, bem como a modalização dos enunciados. 4 – A oralidade no texto escrito torna-o mais leve, menos extenso, mais atractivo para quem lê, dado o facto de o discurso oral se processar por segmentos mais curtos do que os do escrito. 5 – Os segmentos de oralidade tornam o texto mais espontâneo; contribuem para a verosimilhança da expressão de sentimentos, emoções. 6 – As marcas de oralidade no texto escrito conferem-lhe actualidade, tornam o assunto presente a quem lê. 7 – Essas marcas aproximam o leitor do narrador ou da personagem, dos intervenientes. 8 – Essas marcas também permitem uma maior proximidade do leitor em relação à situação: ele como que se sente a vivê-la, porque "ouve" o que se está a passar. Contribuem para a construção do visualismo do texto.

Pergunta:

Na obra Viagens na Minha Terra, o autor utiliza a seguinte expressão: "como se avém ele". Gostaria de saber qual a sua origem e qual o verbo em causa.

Resposta:

"Se avém" é uma forma do verbo pronominal "avir-se". Significa sair-se de dificuldades, arranjar-se, entender-se, combinar-se, acomodar-se, conciliar-se, harmonizar-se. Provém do latim advenire.

Pergunta:

Na frase: Não sei se o Brasil terá isto.

Olhando em uma gramática constava a seguinte explicação..." O verbo terá exprime "dúvida".

Todos sabem que o verbo está no futuro do presente do modo indicativo. Ora, modo indicativo exprime "certeza", "positividade" de acontecimento, de ações, fatos, etc.

Porque a gramática deu esta explicação?

Resposta:

Efectivamente, com o modo indicativo, exprime-se, em geral, uma acção ou um estado considerados na sua realidade ou na sua certeza. No entanto, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, ensina que o futuro do presente simples deste modo se emprega "para exprimir a incerteza (probabilidade, dúvida, suposição) sobre factos actuais." A frase que apresenta é, precisamente, exemplo disso. Não se trata realmente da referência a uma acção futura. A dúvida aí presente é também conferida pela natureza do verbo superior ("não sei").