Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual a regência dos verbos: demandar, animar, subir, aportar, parecer? Se for possível, apresente exemplos através de frases.

Obrigado e aguardo retorno.

Resposta:

1. Animar, animar a, animar com, animar de:

a) A orquestra animou a festa.
b) Ele anima-se facilmente, vais ver...
c) Aquele incentivo animou-o a prosseguir com o trabalho.
d) Vê se te animas a fazer isso depressa.
e) O menino animou-se com o jogo.
f) Ele está animado de grande energia, animado de boa vontade.

2. Aportar, aportar a:

a) O navio aportou em segurança.
b) Eles aportaram à Ilha da Madeira.

3. Demandar:

a) Os portugueses demandaram novas terras.

4. Parecer, parecer-se com:

a) Ela parece uma princesa.
b) Pareces o teu primo a falar.
c) O Manuel parece-se com o pai.

5. Subir, subir a, por, para:

a) O menino largou o balão e ele subiu.
b) Ele subiu a escada muito depressa.
c) O técnico subiu ao telhado.
d) Jesus subiu ao Céu.
e) A lagartixa subiu pela parede.
f) As meninas subiram para o autocarro.

Pergunta:

Não sei se esta pergunta já alguma vez foi feita, mas na mesma fá-la-ei. Tenho lido em certas gramáticas que os tempos, Eu tivera, Eu tinha tido, Eu havia tido, são de significados idênticos. No entanto, noutras gramáticas li que estas formas são de significados diferentes, mas no entanto têm significados parecidos. Eu concordo com esta última opinião, porque quando as uso, uso-as em circunstâncias diferentes do dia a dia. Agora a questão é: essas formas são idênticas, parecidas ou diferentes? Como se sabe, a linguagem do povo e a linguagem erudita são totalmente diferentes.

Resposta:

Morfologicamente, estamos perante três modos de formar o pretérito mais-que-perfeito, um simples, apenas utilizando o verbo que se pretende conjugar, e os outros dois compostos, ou seja, com o auxiliar (ter ou haver) no pretérito imperfeito do indicativo e o verbo em causa no particípio passado.

Com o verbo "ter" não se utiliza o auxiliar "haver". Com outros verbos, tanto se poderá utilizar o auxiliar "ter" como "haver". Portanto, morfologicamente, estas formas podem permutar. No entanto, elas são diferentes quanto à frequência de emprego e ao seu valor.

Assim, o emprego do auxiliar "haver" nesta situação é menos usado. Vulgar é a utilização do tempo composto com o auxiliar "ter": tinha tido, ele tinha feito, tínhamos dito, etc. As duas construções compostas têm precisamente o mesmo sentido: traduzem uma acção anterior a outra já passada.

Quanto à forma simples, a sua utilização está circunscrita a um determinado estrato geracional e cultural. Originariamente partilhando do valor semântico das formas compostas, possui, além desse significado, o valor do condicional (futuro do pretérito do indicativo) e o do pretérito imperfeito do conjuntivo.

Exemplos:

– a frase final do soneto de Camões, "Sete anos de pastor Jacob servia": "Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida." Repare-se que "servira" exprime a ideia do condicional ("serviria") e que "fora" exprime a ideia do pretérito imperfeito do conjuntivo ("fosse");

– o início do poema de Mário de Sá Carneiro, "Quase": "Um pouco mais de sol – e fora brasa. Um pouco mais de azul – e fora além. Para atingir, faltou-me um golpe de asa...". As formas verbais "fora" têm aqui o sentido do c...

Pergunta:

Consulta do dia 21/6/01 apresentou-se com o título acima. A minha dúvida é se ele está correto. Não seria "tipos de predicados", uma vez que há mais de um?

Da mesma forma, não deveriamos escrever "duas espécies de animais", "uma categoria de plantas", "esse tipo de filmes"?

Obrigado.

Resposta:

O título está correcto, caro consulente.

A palavra "predicado" nesta expressão não designa um elemento em particular, mas a função desempenhada por determinadas palavras e expressões. E a função é algo de singular, de genérico. Numa oração só existe um predicado, só existe um termo com a função de predicado. Utilizamos esta palavra no plural se nos estivermos a referir concretamente a mais do que um termo que desempenha essa função, o que apenas acontece se adicionarmos o predicado de uma oração ao de outra, etc. (ex.: nesta frase há dois predicados). E assim, o termo deixa de ter o seu valor genérico, que engloba uma série de outros, para passar a referir-se a um deles em particular e, no plural, à soma de vários singulares, não assumindo esse plural o grau de abrangência e inclusividade total do termo genérico no singular.

Reflectindo agora sobre os exemplos que apresenta, há dois aspectos a considerar: se quer utilizar o singular ou o plural de "tipo", "espécie", "categoria", "género". Embora sob o ponto de vista da taxinomia sejam termos diferentes, eles são comummente utilizados como sinónimos.

Se utilizar o singular (tipo, categoria, espécie, género), o determinativo que se segue tanto poderá ficar no singular como no plural, dependendo do que pretende dizer.

Esclarecendo com exemplos:

   a) "Ele gosta deste tipo de filmes." - significa que a pessoa gosta de todos os filmes que têm entre si algo em comum. O referente é um conjunto de filmes.
   b) "Que tipo de filme é que foste ver?" - significa que quem pergunta pretende ser informado a respeito de características daquele filme em particular. O referente é um filme.

Se utilizar o plural (tipos, espécies, categorias), já se está a re...

Pergunta:

Peço-vos para analisarem sintaticamente este lindo poema de Vinicius de Moraes, que p'ra mim virou um tormento. É o Soneto da Fidelidade.

Queria identificar os Termos Acessórios, Integrantes e Essenciais, além de Orações Subordinadas. Só consegui identificar sujeitos e verbos.

Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Resposta:

Já não é a primeira vez que os consulentes fazem perguntas a respeito deste lindo soneto. Não sei se compreendi bem o que pretende. Naturalmente que não quer que se faça a análise sintáctica de todo o soneto, tarefa de grande dimensão, que não cabe numa página destas, pelo que deduzo pretenda saber quais são as orações subordinadas e se elas funcionam, em relação a outras, como termos essenciais, integrantes ou acessórios.

Vou começar, então, por esclarecer estes conceitos. Numa oração, os termos essenciais são o sujeito e o predicado, os termos integrantes são o complemento nominal e os verbais (objecto directo e indirecto, predicativo do sujeito e do objecto, agente da passiva), e os termos acessórios são o adjunto adnominal, o adjunto adverbial, o aposto e o vocativo.

Quando estamos a analisar um período composto em que existem orações subordinadas, estas desempenham sempre uma função sintáctica em relação a outra oração, podendo essa função ser a de um termo essencial (sujeito), integrante (complemento nominal, objecto directo, indirecto, predicativo ou agente da passiva), ou a de um termo acessório (adjunto adnominal, adjunto adverbial ou aposto).

Podemos, então, referir neste soneto as seguintes orações subordinadas:

1.ª que mesmo em face do maior encanto dele se encante mais meu pensamento – oração subordinada consecutiva: é um termo acessório, pois desempenha a função de um adjunto adverbial da oração inicial;
2.ª quando mais tarde me procure quem sabe a morte, angústia, quem sabe a solidão, fim – oração subordinada temporal: é um termo acessório, pois desempenha a função de um adjunto adverbial da oração "eu possa me dizer do amor";
3.ª de quem vive – oração subordinada relativa: é um termo integrante, pois desempenha a fu...

Pergunta:

Sou estudante da quinta série do primeiro grau e gostaria de saber quando devo usar ão e quando devo usar am?

Resposta:

1. A terminação "am" só aparece nas formas verbais: eles cantam, eles conversam, que eles digam, que eles partam, etc.
2. A terminação "ão" aparece:
a) em substantivos: aclamação, botão, cartão, carvão, chão, colchão, comoção, compaixão, dimensão, dragão, feijão, gestão, grão, ilusão, integração, irmão, Japão, leilão, lição, mansão, nação, noção, opção, padrão, patrão, peão, pensão, perdão, pião, porção, prisão, pressão, razão, refeição, tostão, vocação, etc.;
b) em adjectivos: brincalhão, chorão, comilão, fanfarrão, intrujão, refilão, etc.;
c) em substantivos e adjectivos no grau aumentativo: rapagão; grosseirão, parvalhão, solteirão, valentão, etc.;
d) em advérbios: então, não, quão, tão;
e) em alguns verbos, na 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo: eles são, eles estão, eles vão, eles hão-de;
f) na 3.ª pessoa do plural do futuro do indicativo de todos os verbos: eles cantarão, eles farão, eles partirão, eles porão, etc.