Morfologicamente, estamos perante três modos de formar o pretérito mais-que-perfeito, um simples, apenas utilizando o verbo que se pretende conjugar, e os outros dois compostos, ou seja, com o auxiliar (ter ou haver) no pretérito imperfeito do indicativo e o verbo em causa no particípio passado.
Com o verbo "ter" não se utiliza o auxiliar "haver". Com outros verbos, tanto se poderá utilizar o auxiliar "ter" como "haver". Portanto, morfologicamente, estas formas podem permutar. No entanto, elas são diferentes quanto à frequência de emprego e ao seu valor.
Assim, o emprego do auxiliar "haver" nesta situação é menos usado. Vulgar é a utilização do tempo composto com o auxiliar "ter": tinha tido, ele tinha feito, tínhamos dito, etc. As duas construções compostas têm precisamente o mesmo sentido: traduzem uma acção anterior a outra já passada.
Quanto à forma simples, a sua utilização está circunscrita a um determinado estrato geracional e cultural. Originariamente partilhando do valor semântico das formas compostas, possui, além desse significado, o valor do condicional (futuro do pretérito do indicativo) e o do pretérito imperfeito do conjuntivo.
Exemplos:
– a frase final do soneto de Camões, "Sete anos de pastor Jacob servia": "Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida." Repare-se que "servira" exprime a ideia do condicional ("serviria") e que "fora" exprime a ideia do pretérito imperfeito do conjuntivo ("fosse");
– o início do poema de Mário de Sá Carneiro, "Quase": "Um pouco mais de sol – e fora brasa. Um pouco mais de azul – e fora além. Para atingir, faltou-me um golpe de asa...". As formas verbais "fora" têm aqui o sentido do condicional composto ("teria sido").