Pergunta:
É verdade que, infelizmente, o sotaque lisboeta tende a prevalecer sobre os outros sotaques. Desta forma muitas das vogais que de certa forma já são mudas ainda ficam mais mudas ao ponto do próprio nome da cidade 'Lisboa' parecer mais um 'L'sboa'. Desagrada-me ver que todos parecem estar de acordo em relação à pronúncia de 'Filipe', que eu sempre ouvi assim pronunciado, mesmo pela minha bisavó, mulher extremamente culta, que dizem ser 'Felipe'. Acho mesmo muito mais feia esta segunda forma, e algo pretensiosa. Qualquer dia, se a tendência continuar , os brasileiros, que, têm a mesma língua chegam a 'L'sboa', ouvem um 'B'm d'a, com'stá?' e não reconhecem a sua própria língua. Eu por mim, vou continuar a dizer 'Filipe' , 'ministro' , etc. pronunciando bem os dois 'ii'. Não acho que seja pronúncia afectada. Da mesma forma, os lisboetas dizem 'Rio Douro', 'Riu Dôro', e ninguém lhes diz nada. Que eu saiba 'Rio' é uma palavra dissilábica Ri-o, e não devia ser pronunciada como em 'Ele riu', tal como a má pronunciação de todos os ditongos 'ou' que soam mais como 'ô'...
Resposta:
Não é de forma nenhuma consensual que a pronúncia de Lisboa seja considerada a norma.
O gramático Jerónimo Soares Barbosa, na sua Gramática Filosófica da Língua Portuguesa (1881), escreveu o seguinte: “entre as diferentes pronunciações de que usa qualquer nação nas suas diferentes províncias, não se pode negar que a da corte e território em que a mesma se acha seja preferível às mais, e a que lhes deva servir de regra. Os gregos e os romanos assim o julgavam; aqueles a respeito de Atenas e estes a respeito de Roma; e nós o devemos igualmente julgar a respeito de Lisboa, há muitos anos corte de nossos reis e centro político de toda a nação.” Estas palavras mostram que no fim do século XIX a fala de Lisboa não era considerada a da norma e havia quem o desejasse, pelo prestígio da capital.
Estas palavras não alteraram a realidade, e a boa norma prosódica sempre foi considerada a de Coimbra (a lusa Atenas), berço da Academia, difusora, durante séculos, da norma linguística. Efectivamente, repare-se que se pode dizer que esta ou aquela particularidade é característica do falar de Lisboa ou do Porto, ou do Algarve, etc., sempre por referência à norma de Coimbra.
No século em que estamos, século XXI, não me parece que o argumento da capital, que até ao momento nunca teve peso a nível linguístico e que tende a perdê-lo a nível político e social, possa ser invocado para conferir prestígio a uma forma de falar em detrimento de outras.
Assim, caro consulente, claro que a pronúncia de “coâlho” e “riu” por “coelho” e “rio” vai ser sempre considerada como uma particularidade da fala lisboeta, e não a norma.
No entanto, a referência que faz ao enfraquecimento das vogais átonas pré-tónicas, essa não é uma particularidade local. Trata-se de um fenómeno caracter...