Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Minha dúvida trata-se da concordância ou não concordância das duas partes da conjunção comparativa tanto quanto com o substantivo.

São corretos os exemplos que seguem? Se não, qual é errado e por que? No primeiro exemplo, eu diria tantas (vezes) quanto quiser?

1. [Os dois pintos por Rachel de Queiroz]

São suposições que a gente pode fazer tantas quantas quiser.

2. [a revista Veja] A igreja lhe cede, tantas vezes quanto precise, carros para dirigir e casa para se hospedar.

Resposta:

Quando usada como locução conjuntiva, tanto quanto permanece invariável: “Elas falaram tanto quanto riram.”

Nas frases que apresenta, tanto e quanto não formam uma locução conjuntiva, sendo, sim, pronomes que concordam com os respectivos substantivos.

Assim, deverá dizer: “São suposições que a gente pode fazer, tantas quantas quiser.” e “A igreja lhe cede, tantas vezes quantas precise, carros para dirigir e casa para se hospedar.”

Pergunta:

Professora do 1.º ciclo do Ensino Básico a leccionar na Escola da Carrapichana, a frequentar uma acção de Formação "Sorrir com os Erros e não Rir dos Erros" na E.S.E da Guarda, pede ajuda em relação à palavra: alimpar ou limpar. A palavra aparece no livro do padre António Vieira "Sermão da Séxagésima".

Resposta:

Existem os dois termos, alimpar e limpar.

A palavra alimpar vem abonada na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira por Camões, Os Lusíadas e Filodemo, H. Lopes de Mendonça, Sangue Português e Vieira, Cartas. O Dicionário Aurélio Século XXI apresenta abonações de Albertino Moreira, Boca-Pio, e Junqueira Freire, Obras Póstumas II.

Alimpar tem as seguintes acepções: limpar, tornar limpo; enxugar; separar; roubar; tirar uma obra a limpo, dos borrões; diz-se da fruta, quando se separa da flor.

Pergunta:

Sou professor de História, em Porto Alegre.

Gostaria de saber a pronúncia correta da expressão: prova de proviciência de Italiano ou prova de provicência em Italiano.

Resposta:

Penso que se pretende referir ao termo "proficiência", que significa perfeito e cabal conhecimento, competência, aptidão, capacidade, habilidade.

Esta palavra pode ser utilizada com a preposição "de" (a proficiência de um especialista) ou com a preposição "em" (proficiência em Italiano). No entanto, se a expressão "prova de proficiência" for utilizada como um nome composto, designando um tipo de prova, poderá utilizar a preposição "de".

Em Portugal, esta palavra pronuncia-se como se fosse escrita com "u" (pru); no Brasil, dependendo das zonas, esta vogal da sílaba inicial pronuncia-se "ô" ou "ó".

Pergunta:

   Agradeço me esclareçam uma dúvida com que por vezes me defronto: em relação ao ensino superior, qual a diferença entre matrícula e inscrição? Obrigada.

Resposta:

   Em relação ao ensino superior, a inscrição significa o registo, a inclusão numa lista, enquanto a matrícula implica a oficialização desse registo, eventualmente com o pagamento de uma taxa, de uma propina. Embora possam ser usados como sinónimos, a matrícula é um acto oficial, de cariz institucional, e a inscrição um acto interno, de dimensão menos formal (inscrição para uma posterior matrícula, inscrição numa cadeira, inscrição para exame).

Nos estabelecimentos de ensino superior, é costume designar-se de matrícula o registo inicial do aluno no estabelecimento, e de inscrição a sua renovação nos anos seguintes.

Pergunta:

   Sou uma aluna russa a estudar português. Gostaria que me informassem sobre bibliografia relativa ao fenómeno da contracção. (Contracção ou compressão?)

Resposta:

   Existem os dois termos, contracção e compressão, designando duas realidades diferentes.

   Segundo o Dicionário de Termos Linguísticos, da Associação Portuguesa de Linguística, compressão é a transformação de uma palavra numa forma mais simples, para o tratamento informático, enquanto contracção é o processo ou resultado do processo de redução fonológica de uma forma linguística, de modo a que essa forma se junte a uma forma linguística adjacente. A contracção pode ainda levar a um processo de fusão de formas linguísticas que passam a ocorrer como uma forma simples. Ex.: para a > p’ra; em a > na.

   Quando estudamos a evolução fonética das palavras, podemos observar os seguintes fenómenos de contracção de duas vogais:

   a) a crase – quando duas vogais dão origem a uma só: ponere > poer > pôr; tenere > ter; fruito > fruto;
   b) a sinérese – quando duas vogais dão origem a um ditongo: dizedes > dizees > dizeis; lege- > lee > lei; rege- > rei;
   c) a sinalefa – quando a contracção se dá entre a vogal final de uma palavra e a inicial da seguinte: de + esse > desse; de um > dum; dá-me o > dá-mo.

   Para estudar estes fenómenos, poderá consultar qualquer gramática histórica da língua portuguesa.