Maria Eugénia Alves - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Maria Eugénia Alves
Maria Eugénia Alves
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Professora portuguesa, licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com tese de mestrado sobre Eugénio de Andrade, na Universidade de Toulouse; classificadora das provas de exame nacional de Português, no Ensino Secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Cegalla cita, como exemplo de predicativo do sujeito, a frase «A vida tornou-se insuportável''»(pág. 343). No entanto, logo depois, utiliza a frase «Silvinho acha-se um gênio' (pág. 344) como exemplo de predicativo do objeto.

Qual a diferença entre as construções a ponto de modificar o predicativo?

Na minha análise, as duas possuem predicativos que se referem tanto ao sujeito quanto ao objeto 'se', o qual tem sentido reflexivo. Além disso, 'acha-se' e 'torna-se' são igualmente citados como verbos de ligação (pág 339 e 340). Está certa ou errada a minha lógica? Caso eu esteja correto, há um nome específico para semelhante caso?

Resposta:

A Gramática da Língua Portuguesa (Maria Helena Mira Mateus, et al.,Lisboa, Caminho, 2003) indica a seguinte lista exemplificativa de verbos copulativos – também denominados predicativos, de cópula ou de ligação: andar1, continuar1, estar, ficar, parecer, permanecer, revelar-se, ser, tornar-se.

Também o Dicionário Terminológico da Língua Portuguesa, para exemplificar a definição de verbos copulativos, indica os verbos copulativos mais conhecidos: «Verbo que ocorre numa frase em que existe um constituinte com a função sintática de sujeito e outro com a função sintática de predicativo do sujeito. Costumam listar-se como verbos copulativos os seguintes: ser, estar, ficar, parecer (como em "parecer doente"), permanecer, continuar (como em "continuar calado"), tornar-se e revelar-se.»

Assim, a frase que cita, ''A vida tornou-se insuportável'',  insere-se nos exemplos da lista de verbos  copulativos apresentados nas obras referidas.

Por outro lado, há os verbos  transitivo-predicativos : “Diz-se do verbo que seleciona um complemento direto e um predicativo do complemento direto (é o caso do verbo achar na frase: Achei-a muito simpática.) (in Infopédia , Porto Editora, 2003-2014). “a” é o complemento direto e “muito simpática” é o predicativo do complemento direto.

Na frase «Eu  acho  alguns locutores&#...

Pergunta:

Não sei se esta pergunta será lícita para o Ciberdúvidas, mas conseguem dizer-me se será mais correto escrever-se: Costa do Sol ou Costa del Sol (Espanha)?

Muito obrigada!

Resposta:

Existe uma certa insegurança quando precisamos de traduzir para português nomes de países, regiões ou cidades estrangeiras que  não têm uma tradução conhecida. Mas, se há casos na tradução de topónimos que levantam dúvidas na passagem da língua de partida para a de chegada, este não é um deles, pois há muito tempo que Costa del Sol se traduz para português por Costa do Sol

 

N.E. – Sobre o aportuguesamento dos topónimos estrangeiros em geral e os de Espanha em particular, cf. Textos Relacionados, ao lado.

Pergunta:

É correta a frase «Referente ao assunto X, é solicitado cartas de referência...»?  Ou deverá dizer-se, antes, «são solicitadas...»?

A questão prende-se pela forma como a frase esta construída. Se a enumeração fosse feita com dois pontos, parece-me mais óbvio que possa ser usado "é solicitado" mesmo que nos estejamos a referir a mais do que uma unidade do elemento solicitado.

Obrigado.

Resposta:

O pressuposto básico da concordância verbal é de que o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.

No caso vertente deve aplicar-se a regra geral, isto é, «Referente ao assunto X, são solicitadas cartas de referência...»

Pergunta:

Qual é a  função retórica do texto expositivo argumentativo?

Os meus agradecimentos pela resposta.

Resposta:

Sendo a retórica (do latim rhetorica, -ae, do grego rhetoriké) a «arte de bem falar» e, também, o «conjunto de regras relativas à eloquência»  (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), parece ser evidente que esta arte faça parte preponderante de um discurso argumentativo.

De facto, argumentar é exprimir uma convicção ou um ponto de vista, baseados na verdade, de modo a convencer o ouvinte/leitor. É, pois, necessário apresentar um raciocínio coerente e convincente, apoiado em figuras de retórica que levem o recetor a aceitar como verdadeiro o nosso ponto de vista.

  A argumentação apela não só à nossa racionalidade (ex. discurso político, sermões do Padre António Vieira), como também à nossa emotividade (ex. texto publicitário).

  O texto argumentativo é, por isso, um texto que visa convencer, persuadir ou influenciar o ouvinte/leitor, através da apresentação de uma tese (ponto de vista), cuja veracidade deve ser demonstrada e provada através de argumentos adequados, usando a arte da retórica.

Para construir um texto expositivo – argumentativo há vários aspetos a ter em conta:

1 - Estrutura do texto/ progressão temática:

Introdução - parte inicial onde se apresenta o ponto de vista a defender, de modo claro e bem definido.

Desenvolvimento - explicitação do ponto de vista; apresentação de argumentos que provam a sua veracidade: factos, exemplos, citações, testemunhos...

Conclusão - parte final, constituída por uma síntese da...

Pergunta:

A resposta à questão «localiza a ação no espaço e no tempo», segundo o que aprendi, é a seguinte: «A ação decorre/ passa-se,...»

Contudo tenho visto esta resposta: «A ação localiza-se...» É correto responder-se «localiza-se»?

Obrigada!

Resposta:

O verbo localizar tem como significado «fixar ou limitar a determinado lugar», «determinar o local de», entre outros. Assim sendo, e tendo em conta que a ação se situa num determinado espaço/lugar/local, dizer «A ação localiza-se em...» é perfeitamente válido. 

Sintática e semanticamente, a frase «a ação localiza-se em» tem o sentido de «a ação tem por cenário...». No entanto, poder-se-á pensar que o significado dinâmico de ação é pouco compatível com localiza-se (= «situa-se»), cuja interpretação é estática. Mesmo assim, observe-se que a junção deste substantivo com o verbo em apreço não é erro; na verdade, é possível encontrá-la no discurso escrito, em trabalhos académicos, muitas vezes, justificadamente, no sentido de «tem como coordenada».