Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na obra Amor de Perdição, há uma incoerência de datas: no cap. I, assume-se que o nascimento de Simão é em 1784, é preso em 1804/1805 com 18 anos, o que não bate certo...

A que se deve esta incoerência?

Resposta:

Na edição digital da Imprensa Nacional da obra Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, no capítulo I, o narrador afirma que leu, no cartório da Cadeia da Relação, a informação sobre a entrada na prisão de Simão Botelho, nas páginas «[…] das intradas dos presos desde 1803 a 1805» (pág. 17). Ora, como Simão nasceu em 1784, como é indicado mais à frente no capítulo I, poder-se-á interpretar que este terá sido preso em 1803, ano do seu décimo nono aniversário, mas, muito provavelmente, antes do seu dia de anos, tendo, portanto, na época da sua entrada na prisão ainda 18 anos. Tendo em conta esta interpretação, poder-se-á, então, assumir que não há nenhuma incoerência de datas.

Todavia, segundo Lupi Bello em "Narrativas literárias e narrativas fílmica: o caso de Amor de Perdição", Camilo usa as datas em Amor de Perdição de forma pouco rigorosa, o que leva «a cair em imprecisões temporais, umas vezes, aparentemente, por mero descuido seu e outras por atender, acima de tudo, ao simbolismo de que elas estão embebidas». Portanto, há também a possibilidade de a idade referida como entrada na prisão ser uma idade simbólica e não a idade exata do protagonista. Neste caso, os dezoito anos de Simão são o simbolismo da idade dos sonhos e ideais.

O livro Amor de Perdição é considerado...

Concordância com «a gente»
«A gente irá explicar» ou «A gente iremos explicar»?

Do ponto de vista normativo, a concordância com «a gente» deve ser feita na terceira pessoa do singular, tal como explica a consultora do Ciberdúvidas Inês Gama, neste apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 28 de janeiro de 2024. 

A diplomacia no feminino
O caso da palavra embaixatriz e da palavra embaixadora

Neste apontamento da consultora Inês Gama, é feita uma pequena reflexão sobre a diferença entre as palavras embaixadora e embaixatriz.

Pergunta:

Contextualizando: eu aprendi que orações restritivas focam numa parte do todo e as orações explicativas focam no todo que consequentemente geram os seguintes pressupostos:

«Os professores que são didáticos devem possuir melhores salários.» (Estou restringindo «professor», já que nem todos são didáticos)

«Os professores, que são didáticos, devem possuir melhores salários.» (Estou explicando «professor», já que todos são didáticos)

A minha dúvida é  se as orações coordenativas explicativas permitem esse mesmo pressuposto, já que explicam. Do contrário, o que me permitem pressupor?

Essa dúvida se amplia no exemplo abaixo:

«Expulsaram o aluno João Ferreira, que brigou na escola.»

O que nesse caso poderia ser visto tanto como pronome relativo («João Ferreira brigou na escola») e conjunção explicativa («porque brigou na escola»), o que mudaria o sentido.

Obrigado.

Resposta:

A frase apresentada pelo consulente, «Expulsaram o aluno João Ferreira, que brigou na escola», admite duas interpretações sintáticas e só o contexto poderá indicar qual a adequada.

Poderá ser considerada uma oração coordenada explicativa, uma vez que, segundo o Dicionário Terminológico, as orações coordenadas explicativas apresentam «uma justificação ou explicação para que se torne legítimo o ato de fala expresso pela frase ou oração com que se combina[m]». Assim, na frase referida pelo consulente, a afirmação de que o João foi expulso é justificada pelo facto de este ter brigado na escola. Repare-se que, no caso das coordenadas explicativas, não é possível extrair uma relação de causa real, ou seja, nesta frase o facto de este aluno ter brigado na escola pode não ter sido o motivo real da sua expulsão da instituição, sendo que este facto é antes apresentado como uma justificação da afirmação apresentada na primeira oração.

No fundo, as coordenadas explicativas são pequenos textos argumentativos organizados da seguinte forma: «Eu digo x porque y».

Porém, a oração «que brigou na escola» pode também ser interpretada como uma relativa explicativa, na medida em que poderá relacionar-se com o antecedente «João Ferreira». Neste caso, a oração em questão apresenta uma informação complementar sobre o antecedente. Ora, de acordo com o

Português: a língua de Camões
Como pronunciam hoje os portugueses o primeiro verso d’Os Lusíadas?

Neste apontamento da consultora Inês Gama, aborda-se Luís Vaz de Camões, cujo nascimento estará a perfazer quinhentos anos, e as formas singulares que cada português tem de declamar Os Lusíadas. Que diferenças existem na entoação e na pronúncia de, por exemplo, «As armas e os barões assinalados»? Alguns alunos do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa tentaram responder ao desafio do Ciberdúvidas e demonstraram as variações que, muitas vezes, existem, por exemplo, na forma como se declama este primeiro verso da epopeia, no vídeo que acompanha este texto.